É fundamental melhorar a avaliação ambiental, social e econômica dos projetos hidrelétricos em execução e previsto para a bacia do rio Madeira (RO). Essa foi uma das principais conclusões do Simpósio Internacional "Avaliação de Impactos Ambientais de grandes hidrelétricas em regiões tropicais: o caso do rio Madeira", realizado em La Paz, na Bolívia, de 19 a 20 de maio. "Esses critérios devem ser a base para a tomada de decisões em relação ao desenvolvimento energético sustentável na Amazônia", afirma os participantes do evento.
Jorge Molina, do Instituto de Hidrologia e Hidráulica da Universidad Mayor de San Andrés (IHH/UMSA), que organizou o evento junto ao Instituto de Investigação para o Desenvolvimento (IRD) e a organização WWF, mostrou que as usinas do rio Madeira, Jirau e Santo Antonio, vão provocar impactos hídricos no território boliviano, incluindo o aumento do risco de inundações. Marc Pouilly, do IRD, advertiu também que "existem dados bastante precisos que afirmam que as inundações serão consequência das represas, as quais podem afetar as atividades de aproveitamento dos recursos naturais e aumentar as doenças como a malária, a febre amarela e a dengue".
Estima-se que 80% dos peixes amazônicos bolivianos são migratórios e algumas espécies que têm importante valor comercial e de subsistência poderão ser afetadas. "Dentro dos possíveis impactos está a redução gradual da pesca, que pode afetar pelo menos 16 mil famílias bolivianas que atualmente vivem desta atividade", disse Paul Van Damme, da Associação FaunAgua. Segundo Jean Remy Davée Guimarães, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), outros impactos observados em usinas construídas em áreas tropicais são o aumento do mercúrio nos peixes, o desmatamento por causa da construção das obras e das linhas de transmissão, a contaminação por herbicidas para a manutenção das linhas de transmissão, a retenção de sedimentos e a erosão.
Miguel Petrere, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) no Brasil, afirmou que hidrelétricas não representam uma energia limpa. "A diversidade, a população e o tamanho dos peixes diminuíram consideravelmente depois das usinas. A comunidade científica pode ajudar a encontrar alternativas energéticas, assim como locais para que as represas minimizem os impactos ao ser humano e ao meio ambiente", argumentou.
Sobre os impactos socioeconômicos, Manuel Antonio Valdés, da Universidade Federal de Rondônia (Unir), disse que, no caso brasileiro, 65% da população que vive na área do rio Madeira - mais de mil famílias - muito provavelmente terão que se mudar, deixando suas plantações, criações de animais, costumes e formas de vida em harmonia com o rio. Destes, apenas 30% contam com títulos de propriedade, o que fará mais difícil a implantação de um esquema de compensação social.
(Amazonia.org.br, 21/05/2009)