Estamos atravessando um período de atividade solar reduzida, com um mínimo muito prolongado, que somente agora parece dar sinais de que o 24º ciclo solar está a caminho
A atividade solar com ciclos bastante previsíveis ─ identificados pelo surgimento de manchas solares (regiões escuras na superfície do Sol com alta atividade magnética) ─ apresenta um pico de aproximadamente 11 anos. O ano de 2008 foi o segundo mais calmo (em termos de manchas) dos últimos 100 anos, sendo que o Sol permaneceu absolutamente “calmo” durante 72,8% do tempo. Este ano, tudo indicava que seria ainda mais calmo. No início de abril verificamos que nos três primeiros meses de 2009 o Sol se manteve calmo em 86,7% dos dias. A ausência de atividade é tranqüilizadora para sistemas de satélites, sua infra-estrutura e atividades realizadas no espaço, como os reparos externos que os astronautas estão se preparando para fazer no Telescópio Espacial Hubble. Essas atividades podem se tornar extremamente arriscadas em períodos de atividade solar intensa.
Em grandes escalas de tempo, o Sol provavelmente passou por períodos de calmaria mais longos, nos seus 5 bilhões de anos de vida. Na verdade, de acordo com a Nasa, mínimos solares muito profundos eram comuns até recentemente ─ o atual período calmo teria que persistir por mais um ano para poder ser comparado às calmarias de 1901 e 1913. A diferença é que desta vez as agências espaciais dispõem de vários satélites aptos a observar o Sol em profunda inatividade. Quando o Sol voltar ao seu mínimo, dentro de uma década, haverá um novo membro da frota. O Orbitador Solar da Nasa e da Agência Espacial Européia, a ser lançado em 2015, deverá observar o Sol de uma órbita a um quarto da distância Sol-Terra.
No início deste mês, no entanto, o Sol parece ter dado sinais de que está despertando de sua longa hibernação. Uma das naves gêmeas que forma o grupo Stereo, da Nasa, identificou atividade solar surgindo além do limbo solar ─ as duas espaçonaves estão posicionadas em órbitas complementares, uma na frente e outra atrás da Terra em sua órbita ao redor do Sol, permitindo “ver” áreas do Sol além do disco visível da Terra.
A nave “de trás” observou uma grande fulguração (flare) e uma violenta erupção de plasma chamada de ejeção de massa coronal no dia 7. A explosão foi “provavelmente a mais brilhante de todas as observadas, pelo menos no ano passado”, avalia Michael Kaiser, cientista do projeto Stereo, do Goddard Space Flight Center, em Greenbelt, Maryland. Dois dias antes, a região já estava ativa, marcada por um par de manchas, ainda fora de visão da Terra. A região seria vista por observadores terrestres somente no dia seguinte. Kaiser comenta que “em 2001, quando estávamos no máximo de atividade solar, não teríamos tido essa possibilidade, mas hoje podemos ver quase tudo”.
Pesquisadores do clima especial utilizam imagens das naves Stereo para prever a atividade solar que atingirá a Terra nos próximos dias. No momento, segundo Kaiser, o orbitador “de trás” observa áreas do Sol que só serão vistas da Terra em três dias, mas dentro de dois anos os orbitadores gêmeos estarão separados de 180º, permitindo, pela primeira vez, observações simultâneas de toda a superfície do Sol.
Dada a duração extremamente longa deste mínimo solar, climatologistas espaciais do Centro de Previsão de Clima Solar, do National Oceanic and Atmospheric Administration, estão revisando prognósticos feitos em 2007 para atualizar as previsões do próximo ciclo solar, já disponíveis aqui.
(Por John Matson, Scientific American Brasil, 14/05/2009)