Apesar de ter 4 vezes mais desalojados, região conta com menos doações e verba pública só foi liberada nesta quarta (20/05)
Nesta sexta (22) se completam seis meses que Santa Catarina teve parte das terras devastadas pelas chuvas e pelos desmoronamentos de morros inteiros, na segunda maior tragédia natural na história da Região Sul. Por semanas, o País - incluindo os governantes - acompanhou comovido histórias como a da costureira Nilzete Aparecida Neres, que até hoje dorme em um abrigo público, ou a do estampador André de Oliveira, que perdeu a mulher grávida, dois filhos, a sogra, a cunhada e a prima. Enquanto dezenas de helicópteros levavam doações, senadores faziam reuniões de emergência e toneladas de roupas e comida eram enviadas em solidariedade. E muitos se perguntavam - afinal, se fosse em outra região do Brasil, em outra situação, seria tudo diferente?
Em parte, a questão pode ser respondida agora - e a própria discussão do tema pode ajudar a melhorar as políticas públicas do País. Comparando números da tragédia de novembro do ano passado em Santa Catarina com da que acontece agora em nove Estados do Nordeste, devastados por chuvas desde abril, parece que ocorrem em países diferentes. Santa Catarina teve 63 cidades afetadas, 137 mortes, 51 mil desalojados e 27 mil desabrigados. No total, a estrutura de suporte para lidar com as enchentes contou com 24 helicópteros e 4 aviões da Força Aérea. Doações da sociedade totalizaram R$ 34 milhões e o governo federal e o Congresso Nacional prometeram a liberação de R$ 360 milhões.
Apesar de registrar um número menor de mortos até o momento, 45, o Nordeste tem 299 cidades afetadas, 200 mil desalojados e 114 mil desabrigados. Mesmo assim, com um número 4 vezes maior de pessoas que precisam urgentemente de ajuda, só 3 helicópteros e 3 aviões atuam na região. E as doações não alcançam R$ 4 milhões.
''Dinheiro velho''
Só ontem, quase dois meses após o início das tempestades - que também castigam três Estados do Norte -, o governo federal destinou verba ao Nordeste, por meio de medida provisória assinada pelo presidente em exercício José Alencar, que liberou R$ 880 milhões - incluindo ajuda às vítimas da seca no Sul. As cidades atingidas ainda esperam repasse de R$ 23 milhões desde as enchentes do ano passado, referente a empenhos do Orçamento de 2007.
"Em Santa Catarina, 137 mortos é chocante", diz o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, autor do estudo Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros. "No Nordeste, é histórico o problema das secas e das enchentes. Já não impressiona mais."
(Por Rodrigo Brancatelli, O Estado de S. Paulo, 21/05/2009)