Para Márcio Pochmann, ricos precisam ser tributados diferentemente dos pobres
Além de se caracterizar como uma crise estrutural, com efeitos no crédito e nos investimentos; e sistêmica, repleta de efeitos sociais e políticos, pela primeira vez, uma crise econômica também é globalizada. Esse foi um dos destaques do seminário “As crises do capitalismo”, de Márcio Pochmann, realizado no Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. A palestra faz parte do Curso sobre a Crise do Capitalismo.
Inédita também por envolver “graves problemas ambientais”, a crise deixou evidente, segundo o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a “desgovernança” do mundo. “A Organização das Nações Unidas (ONU), o Banco Mundial, e o Fundo Monetário Internacional (FMI), foram incapazes de dizer algo relevante”, afirma o economista.
Comportamento
O presidente do Ipea ainda destacou o peso das maiores corporações do mundo, não somente na produção de produtos e serviços, mas também de padrões comportamentais. “48% do PIB do mundo são de 500 corporações. Essas corporações são as reprodutoras do padrão de consumo. É preciso repensar isso tudo e construir um novo padrão de consumo”, afirma Pochmann.
Para ilustrar o atual contexto em que a humanidade vive, o economista compara as características familiares de um século atrás com a atualidade. Segundo ele, antes as casas eram menores e se constituíam como espaços de socialização das pessoas. Hoje em dia, as casas são maiores, moram menos pessoas, porém, “viraram depósitos de que compramos”, e menos um espaço de socialização familiar.
Para o economista, é necessário superar o atual conceito de “bem-estar social”, tendo em vista que “o neoliberalismo nos forçou a pensar pequeno”, segundo ele afirmou. Entretanto, uma nova postura comportamental, segundo ele, “não muda de um dia para o outro”. “Precisamos, por exemplo, tributar os ricos e fazer mais mudanças. Mas precisamos ter base política”, pondera.
A crise e o Brasil
Ainda sob a forte influência neoliberal, e sua força de fazer os trabalhadores pensar pequeno, “não estamos construindo uma agenda de transformação, de refundar o Estado”, pontua Pochmann. Segundo ele, “o Estado que temos hoje não serve”, pois ainda é fundamentado por práticas pensamentos do século do 20.
No contexto nacional, o presidente do Ipea critica as ações contraditórias próprio governo federal que tenta impulsionar o consumo beneficiando as grandes montadoras de carro, ao passo que, ao invés disso, poderia forçar a diminuição das passagens de ônibus ou mesmo o preço da cesta básica. Com indignação, Pochmann soma a essas mais uma questão: “Por que não tributam os ricos?”.
Em relação às medidas tomadas pelo governo brasileiro, Pochmann afirmou que ações como redução de impostos, de juros, e elevação do salário mínimo, possivelmente evitarão a recessão no país. Ele ainda acrescenta que é muito provável que haja um crescimento econômico que atinja até 2% do Produto Interno Bruto (PIB).
Ele não minimiza, porém, o retrocesso de desenvolvimento social que vinha ganhando força desde os anos de 2003 e 2004 no país. “Vamos conviver com um maior desemprego e o aumento da pobreza e desigualdade”, conclui o economista.
(Brasil de Fato, 14/05/2009)