Construção no entorno da favela na zona sul do Rio passará de 3 m para 90 cm. Altura inicial será usada apenas em trecho com risco de deslizamento; mudança não vale para as outras 12 favelas incluídas no projeto
Após quase dois meses de polêmica, o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho, recuou nesta terça (19/05). Diminuirá a altura do muro a ser construído no entorno da Rocinha, na zona sul. Em audiência com associações de moradores, ele decidiu que será erguida uma mureta de até 90 cm. Prevista inicialmente como padrão, a barreira de 3 m só será usada em áreas de risco de deslizamento de terra. A mudança vale só para a Rocinha. Nas demais 12 comunidades que fazem parte do projeto será adotada a medida padrão, segundo a Emop (Empresa de Obras Públicas). Ainda não se sabe qual será a nova extensão total do muro e da mureta.
A proposta do Estado era criticada por presidentes de associações de moradores de favelas, que consideravam o muro símbolo de "segregação". Ao custo estimado de R$ 40 milhões (incluindo indenização a moradores removidos), 14,6 km de muros de 3 m seriam erguidos em volta de 13 favelas.
O objetivo oficial é conter a expansão horizontal das construções irregulares. Críticos apontavam que algumas comunidades escolhidas não cresceram em nove anos. Na reunião, Cabral aceitou a proposta do presidente da associação da Rocinha, Antônio Ferreira, de construir trilhas ecológicas nos limites da favela, que serviriam como demarcador da comunidade e seriam combinados com a mureta. Foi aceita também a proposta de criar uma guarda florestal, composta por moradores, cuja responsabilidade será fiscalizar o respeito ao limite delimitado.
O diretor de obras da Emop, José Carlos Pinto, evitou falar em recuo, citando "consolidação" e "simbiose" dos projetos do governo e das comunidades. Desde a divulgação do projeto, o governo vinha afirmando que não cederia "um milímetro" na construção dos muros. A Emop afirmara que a altura havia sido definida pela "engenharia, de acordo com a responsabilidade social da obra". Cabral não comentou a redução. Disse só que "quem quer criar essa polêmica é quem não vive a vida de uma comunidade que precisa de investimentos".
(Por Italo Nogueira, Folha de S. Paulo, 20/05/2009)