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política do agronegócio perdigão-sadia
2009-05-19

Na hora de unir Sadia e Perdigão, foi o presidente quem empurrou a bola para o gol, consolidando o modelo das grandes multinacionais brasileiras, abençoadas pelo BNDES.

Na tarde da terça-feira 12, o presidente Lula estava eufórico. Corintiano fanático, ele veio a São Paulo para um encontro com o jogador Ronaldo, artilheiro do seu time. No fim da conversa, Lula quis posar para uma foto com o Fenômeno como se ambos estivessem fazendo malabarismos com a bola. Na primeira tentativa, Lula errou e cabeceou para baixo, direto na mesa central do seu gabinete da avenida Paulista, na sede do Banco do Brasil. Ronaldo sorriu e ensinou o presidente a cabecear para cima. Feito o clique, que no dia seguinte apareceria na primeira página de todos os jornais, Ronaldo e o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, saíram da sala.

Do lado de fora, estava o ex-ministro do Desenvolvimento e presidente da Sadia, Luiz Fernando Furlan. Lula o recebeu com um abraço fraterno, mostrou-se feliz com o avanço das negociações para unir Sadia e Perdigão e disse que era chegada de hora de desempatar o jogo. “E então, Furlan, quando vamos colocar a bola para dentro do gol?”, indagou o presidente. Naquele instante, estava selado mais um grande negócio que nasce com a marca do governo Lula. Juntas, Sadia e Perdigão, que já vêm sendo chamadas de “Sadigão”, formarão uma autêntica multinacional brasileira, que se chamará Brasil Foods, com receita anual de R$ 22 bilhões e 100 mil empregados. Um dos sócios deverá ser o BNDES, repetindo um modelo já testado em outras operações, como as fusões entre Oi e Brasil Telecom e entre VCP e Aracruz Celulose.

Furlan saiu de lá ciente de que havia cumprido uma missão quase impossível: encontrar uma saída para a empresa fundada pelo seu avô Atílio Fontana há 80 anos e que, depois de prejuízos bilionários com derivativos financeiros, corria o risco de ficar insolvente. O ex-ministro não só realizou um antigo sonho, ao criar um gigante global de alimentos, como fez com o limão uma limonada. De certo modo, a operação Sadia-Perdigão se assemelha ao que ocorreu no processo Itaú-Unibanco.

A Sadia foi “engolida” pela Perdigão, mas o bloco de famílias liderado por Furlan será um dos maiores acionistas individuais da empresa resultante, assim como Pedro Moreira Salles, do Unibanco, conseguiu fazer no acordo com o Itaú. Exatamente como a revista DINHEIRO antecipou em sua edição 592, de 6 de fevereiro deste ano (A AmBev do Frango). Embora a Sadia fique com 30% da futura empresa e a Perdigão com 70%, os 57 sócios ligados às famílias Furlan e Fontana terão cerca de 10% da Sadigão, um percentual muito próximo ao do outro outro principal acionista, que será a Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil. O BNDES, chefiado por Luciano Coutinho, pode entrar na empresa numa etapa posterior, participando de uma emissão de ações de até R$ 4 bilhões. Além disso, o conselho de administração deverá ter dois copresidentes: Nildemar Secches, da Perdigão, e o próprio Furlan. Na tarde da sexta- feira 15, a operação ainda não havia sido oficializada, mas o anúncio era esperado para qualquer momento – faltava apenas informar a Comissão de Valores Mobiliários.

A construção dessa nova empresa, no entanto, teve de superar vários obstáculos. Concorrentes históricos, Sadia e Perdigão nasceram em Santa Catarina e criaram culturas competitivas e antagônicas. A tal ponto que Furlan, corintiano como Lula, chegou a comparar o negócio a uma improvável união entre Corinthians e Palmeiras. Em março deste ano, às vésperas do pior balanço da história da Sadia, com prejuízo de mais de R$ 2 bilhões, a fusão parecia caminhar para um naufrágio, com uma guerrilha de informações entre as equipes das duas companhias. Naquele momento, distanciando-se da Perdigão, a Sadia seria presa fácil para empresas internacionais e chegou a ser procurada por Cargill e Nestlé. Foi então, há cerca de 45 dias, que Lula decidiu intervir. Pegou o telefone, ligou para Luciano Coutinho e deu uma orientação clara: a Sadia não poderia cair em mãos estrangeiras.

Daqui para a frente, a integração das operações vai tomar a maior parte do tempo das empresas. Nos primeiros meses, ela acontecerá nos departamentos de logística e distribuição, mas as áreas administrativas das companhias devem se manter separadas pelo período de um ano. “Eles não querem atravessar o Cade e virar uma nova Nestlé- Garoto”, diz um advogado que acompanhou a fase final de negociações. Até por isso, a operação será submetida previamente aos organismos de defesa da concorrência. Os ganhos de sinergia podem chegar a até R$ 2,2 bilhões pelas contas da corretora Brascan.

Boa parte da economia deve vir do encolhimento das despesas operacionais, maiores na Sadia (os gastos lá superam em R$ 400 milhões os da Perdigão). São 23 diretores espalhados pela empresa contra apenas dez na Perdigão, segundo dados de balanço. Além disso, enquanto na Sadia o faturamento por funcionário subiu de R$ 168 mil para R$ 178 mil nos últimos dois anos, na Perdigão aumentou 30% no mesmo período e foi a R$ 193 mil. Há inclusive uma torcida no mercado pela manutenção no comando do corpo diretivo da Perdigão. “Isso existe não por causa do tropeço com os derivativos na Sadia. A Perdigão é mais profissionalizada e eficiente”, diz Rafael Weber, analista da Geração Futuro.

Se a gestão da Perdigão engolir a da Sadia, o nível de autonomia dos novos executivos na empresa a ser criada tende a crescer. O que talvez não mude muito é a batalha com o varejo. “Ambas apertam de todos os lados e isso só vai piorar. Toda a compra de itens de Natal vai estar agora nas mãos deles. Mandei minha equipe ir atrás de peru de Natal no Canadá e na França”, conta um diretor de perecíveis de uma rede varejista. O varejo já aguarda um novo planejamento estratégico das marcas. Cada segmento de produto terá uma marca principal a ser trabalhada, acreditam os analistas. “As duas marcas devem conviver de forma paralela no Brasil e lá fora. A mais fraca de cada segmento sumirá e deve ficar a de maior expressão em cada produto”, disse José Roberto Martins, sócio da GlobalBrands. Mas diminui a percepção de que a Sadia deve focar sua linha na classe A e a Perdigão nas classes B e C. “Se fizerem isso, que ganhos de sinergia terão?”, questiona Rafael Cintra, analista da Link Investimentos.

O trabalho duro vai acontecer do portão para dentro das unidades. Os 35 centros de distribuição que as duas companhias têm hoje podem passar por uma reorganização das atividades. Apenas no Rio Grande do Sul, as duas empresas têm 15 centros, quase a metade do total. Em Concórdia (SC) cada uma mantém um mega-abatedouro de aves a uma distância de 60 quilômetros. A Sadia tem unidades industriais no Rio Grande do Sul com ociosidade superior a 30%, informa o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação. Mas as sobreposições de centros e unidades são mais localizadas no Sudeste e Sul. Por isso, as associações do setor preferem ser cautelosas. “Não haverá muito excedente a ser cortado”, diz o presidente da União Brasileira da Avicultura, Ariel Mendes.

Distribuída em diferentes polos, a Brasil Foods aumentaria a área de atuação da nova empresa, pois a concorrência é pequena entre unidades no Centro-Oeste e Nordeste, por exemplo. Inevitável, no entanto, será a alteração do cenário da concorrência no País. Unidas, Perdigão e Sadia dominarão o mercado nacional de carnes congeladas – de cada dez produtos, oito serão da Brasil Foods –, de margarinas (65,5% das vendas), carnes resfriadas (58,2%) e de pizzas semiprontas (67%), segundo dados dos balancetes dos grupos. Uniões que resultem em concentração superior a 20% precisam passar pela Secretaria de Acompanhamento Econômico e pelo Cade.

A concentração por si só não é um problema. Diversos outros fatores serão analisados para garantir a livre concorrência, sem prejuízo aos consumidores”, disse o ex-conselheiro do Cade Cleveland Prates. Um desses pontos é a condição das outras empresas que atuam nesses setores. “Mesmo que o Cade aprove a fusão, é possível que seja recomendada, por exemplo, a redução das tarifas de importação ou algo semelhante”. Até lá, as visitas de Luiz Fernando Furlan ao Planalto tendem a se tornar ainda mais comuns, talvez com temas menos amenos do que as vitórias corintianas. A Perdigão, dona da marca Batavo, estreará uma nova campanha na camisa do Corinthians neste domingo, no jogo contra o Botafogo, tendo como garoto-propaganda Ronaldo. E o presidente do timão, Andrés Sanchez, já mandou avisar ao amigo Furlan que agora espera dobrar a cota de patrocínio do clube.

Mas é só uma brincadeira. Com números ainda ruins nos balanços (por causa das operações com derivativos, a Sadia teve prejuízo de R$ 240 milhões no primeiro trimestre deste ano, enquanto a Perdigão perdeu outros R$ 226 milhões), as duas empresas vão ter muito trabalho a fazer antes de pensar em gastar mais.

(Por Leonardo Attuch e Adriana Mattos, IstoÉ Dinheiro / IHU Online, 17/05/2009)


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