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frigoríficos/agroindústrias perdigão-sadia
2009-05-18

Expectativa é que formação da Brasil Foods seja assinada às 10h e informada para o mercado logo em seguida. Um dos maiores obstáculos para a conclusão do negócio é o banco Concórdia, que pertence à Sadia e que a Perdigão quer fora da BRF

Operação Sete Belo. Foi esse o codinome usado internamente, para tentar manter em sigilo as negociações entre Sadia e Perdigão, antes de as empresas virem a público admitir as conversas que devem dar origem à BRF (Brasil Foods). Depois de quase ser finalizado algumas vezes, a expectativa é que o negócio seja assinado às 10h de hoje e anunciado ao mercado logo em seguida. Sete Belo é a melhor combinação de cartas nas partidas do jogo de baralho sete e meio, formada apenas por cartas de ouros.

No fim de semana, advogados se reuniram para finalizar acertos contábeis. A assinatura do contrato era esperada para a tarde de ontem, mas novos acertos precisaram ser feitos. Um dos principais problemas, segundo uma pessoa ligada às negociações, diz respeito ao banco Concórdia, que pertence à Sadia. Como a Perdigão e o fundo de pensão Previ, acionista tanto da Sadia como da Perdigão, não querem o banco na BRF, ele está sendo excluído dos cálculos. A cada mudança, as contas têm de ser refeitas e aprovadas pelos mais de 40 acionistas das famílias Fontana e Furlan, fundadoras da Sadia.

De todo modo, assim que for apresentado ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), a autarquia deverá submeter o negócio a um mecanismo conhecido como Apro (Acordo de Preservação da Reversibilidade da Operação). Sem força de lei, mas previsto e adotado em diversos casos analisados pelo conselho, o Apro é um acordo que prevê que a estrutura das companhias continuará existindo e operando de maneira independente até que o negócio seja aprovado, rejeitado ou modificado pela autarquia.

Exemplos anteriores
"Em negócios complexos, como é o caso de Perdigão e Sadia, é inevitável que seja feito um Apro", afirma Celso Campilongo, ex-conselheiro do Cade e professor de Direito da USP e da PUC-SP. "Em qualquer lugar do mundo avaliar uma fusão desse porte leva muito tempo e, daqui a dois anos, quando o processo de análise for concluído, se corre o risco de uma das marcas desaparecer, entre outras coisas", diz ele.

Campilongo lembra que foi o que ocorreu quando a Kellogg's comprou a também fabricante de cereais Superbom. O Apro já foi usado nas compras da Garoto pela Nestlé e da DM, dona das marcas Adocyl e Zero Cal, pela Hypermarcas, detentora da marca Finn. Também na fusão entre as distribuidoras de publicações Fernando Chinaglia e Dinap.

Para Campilongo, o processo de avaliação da fusão entre Sadia e Perdigão será bastante complexo e demorado por ambas atuarem em diversos mercados. Podem ser feitas eventualmente imposições para que a BRF venda fábricas ou marcas em algumas das áreas nas quais, após a fusão, haja grande concentração de mercado. "Além disso, não se pode desconsiderar na análise que a Sadia teve grandes perdas por conta dos derivativos [operações financeiras que a levaram a ter prejuízo de R$ 2,5 bilhões em 2008]", diz Campilongo.

Segundo ele, é muito difícil fazer especulações se uma fusão do porte da Sadia e Perdigão, que criará uma empresa com faturamento anual de R$ 22 bilhões, será prejudicial ao consumidor ou eliminará a possibilidade de surgimento de novos competidores. Campilongo diz que, mesmo após a criação da AmBev, se destacaram competidores importantes entre as cervejarias, como Itaipava e Schincariol.

(Por Cristiane Barbieri, Folha de S. Paulo, 18/05/2009)


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