Relatório da REN21 mostra que políticas de incentivo fizeram o uso de fontes de energia limpas crescerem 16% no último ano e recomenda que a continuidade dos investimentos para atender a futura demanda minimizando os danos ambientais
Mesmo com a crise econômica, a capacidade de energia global vinda de fontes renováveis cresceu 16% em 2008, alcançando 280 mil megawatts (MW), aponta o relatório “REN21 Renewables Global Status” divulgado na última quarta-feira (14/05) pela Rede de Políticas de Energia Renovável para o século 21 (REN21). “O crescimento recente do setor ultrapassou todas as previsões, mesmo aquelas feitas pela própria indústria”, afirmou o presidente da REN21, Mohamed El-Ashry.
Apesar do total de energia gerada ainda ser baixo em comparação com outras fontes, a geração de energia solar por painéis fotovoltaicos (PVs) conectados a rede foi a que mais cresceu (70%), alcançado uma capacidade de 13GW. A Espanha se tornou líder do mercado de PVs, com 2,6 GW de novas instalações conectadas a rede. Biocombustíveis também tiveram destaque, com tanto a produção de biodiesel quanto a de etanol subindo 34%. Em seguida, o melhor desempenho veio do setor eólico, o qual teve um incremento de 29%, chegando a 121GW ou mais que dobrando a capacidade instalada mundial de 2005, que era de 59GW.
O aquecimento solar subiu 15% gerando 145 gigawatts-termal (GWth). Na Alemanha, o crescimento do uso de aquecimento de água a partir da energia solar foi recorde, com mais de 200 mil sistemas instalados. A energia geotérmica ultrapassou os 10GW, tendo os Estados Unidos na liderança. A fonte é usada hoje para o aquecimento direto do solo em pelo menos 76 países.
Políticas de incentivo
Segundo El-Ashry, estes números resultam de políticas favoráveis motivadas pelas preocupações com as mudanças climáticas e a segurança energética. Durante o ano de 2008, um grande número de governos adotou novas políticas e muitos estabeleceram metas ambiciosas. Hoje, ao menos 73 países possuem metas para as renováveis, enquanto que em 2007 eram 66.
As tarifas feed-in, quando particulares produzem energia e injetam na rede, foram adotadas a nível nacional em pelo menos cinco países pela primeira vez em 2008 e início de 2009: Quênia, Filipinas, Polônia, África do Sul e Ucrânia. Outro destaque político são as ações de cidades e governos locais na implementação de planos de uso de fontes renováveis ligadas as reduções de emissões de dióxido de carbono. O relatório cita o Brasil como um dos países onde cidades estão promovendo o uso de aquecimento solar para água em edifícios comerciais e residenciais, incluindo São Paulo e Porto Alegre.
Como reflexo da crise financeira, muitos governos direcionaram fundos de estímulo econômico para a criação de novos empregos verdes no setor de energias limpas, incluindo o pacote norte-americano que pretende investir US$ 150 bilhões nos próximos dez anos em renováveis. Países em desenvolvimento, particularmente a China e a Índia, têm desempenhado um papel crescente tanto na fabricação quanto na instalação de energias alternativas, segundo o relatório. A China, por exemplo, dobrou a capacidade eólica instalada em 2008 em apenas quatro anos.
Por muitos anos, esta indústria tem sido vista como “garantia de crescimento” e até mesmo “a prova de crises” em razão do formidável desempenho na última década. O relatório mostra que, em 2008, o setor resistiu à crise do crédito com um sucesso maior que outros setores na maior parte do ano. Além disso, os novos investimentos seguiram em alta, subindo 16% em relação a 2007 e alcançando US$ 120 bilhões. Somente no final do ano, os impactos da crise começaram a surgir.
E é por isto que El-Ashry ressalta que agora não é o momento de relaxar nas políticas que apóiam a expansão do setor globalmente. “Ao manter – e expandir – estas políticas, governos, indústrias e a sociedade irão colher substanciais ganhos econômicos e ambientais quando a economia retomar seu ritmo mantendo o mercado energético necessário para atender o rápido aumento de demanda.”
Brasil
O Brasil está entre os países que mais aumentaram a capacidade instalada de fontes renováveis em 2008, estando em quinto lugar. Na sua frente estão, respectivamente, Estados Unidos, Espanha, China e Alemanha. Com relação ao aquecimento de água a partir de energia solar, o país ficou em quarto lugar, com a China, Turquia e Alemanha na frente.
Nos biocombustíveis, a forte campanha brasileira em defesa do etanol e do grande aumento da produção não foi suficiente para ultrapassar os Estados Unidos, que mantiveram a liderança em 2008, produzindo 34 bilhões de litros. “Praticamente estagnada por alguns anos, a produção de etanol passou de 18 bilhões de litros em 2006 para 27 bilhões de litros em 2008. E pela primeira vez no Brasil mais da metade do consumo de veículos abastecidos por combustível que não seja diesel veio do etanol em 2008”, afirma o relatório. Cerca de 15% do etanol produzido no Brasil foi exportado no ano passado.
Já o biodiesel, o país ficou em quinto lugar, estando atrás da Alemanha, Estados Unidos, França e Argentina. A União Européia é responsável por cerca de dois terços da produção mundial, com a Alemanha, França, Itália e Espanha no topo dos produtores europeus. No final de 2008, a capacidade de produção do bloco alcançou 16 bilhões de litros por ano.
(Por Paula Scheidt, CarbonoBrasil, 15/05/2009)