Líderes de consórcios entram em nova fase de exploração, furando poços para calcular o tamanho das reservas
Petroleiras estrangeiras com atuação no Brasil começam a intensificar as buscas pelas reservas abaixo da camada de sal como operadoras e líderes de consórcios, com ou sem a participação da Petrobrás. Segundo especialistas, os primeiros detalhes sobre volumes de reservas podem ser divulgados ainda este ano. Apesar de a média de preço internacional do barril de petróleo ter despencado desde meados do ano passado, a aceleração dos investimentos parece confirmar a viabilidade do pré-sal brasileiro.
Em parceria com a estatal brasileira, duas estrangeiras - a portuguesa Galp e a britânica BP - já haviam comemorado a multiplicação de seus volumes de reservas. Agora, dois poços já sendo perfurados no pré-sal sob o comando de multinacionais e a expectativa é que pelo menos outras quatro perfurações sejam feitas este ano.
O estágio atual marca a segunda fase da atividade exploratória de multinacionais no País, já com a perfuração dos chamados poços de extensão, que têm como objetivo dimensionar o tamanho dos reservatórios. Nesse caso, enquadram-se os dois poços perfurados atualmente: Azulão 2, da americana Exxon, e Corcovado 2, da britânica BG, ambos na Bacia de Santos. "Já é uma fase mais adiantada de exploração, em que as companhias avaliam a extensão dos reservatórios", explica o geólogo Giuseppe Bacoccoli, professor da UFRJ e ex-funcionário da Petrobrás. "Há hoje uma importante participação de companhias estrangeiras no pré-sal, seja por meio de parcerias com a Petrobrás ou como operadoras", comenta.
Azulão e Corcovado, por exemplo, têm participação da Petrobrás, mas são operados pelas estrangeiras. A expectativa do mercado é que, com a conclusão dos poços, as empresas já possam divulgar estimativas de reservas, assim como fez a estatal ao fim do segundo poço de Tupi. Exxon e BG anunciaram as primeiras descobertas nos blocos BM-S-22 e BM-S-52, respectivamente, este ano. Imediatamente, partiram para os poços de extensão.
"Depois do poço, vamos estudar os resultados e decidir a melhor maneira de continuar a exploração", desconversou o diretor de Assuntos Corporativos da BG no Brasil, Roberto Ardenghy. A companhia tem 40% do BM-S-52, em águas mais rasas do que Tupi, e assumiu a operação após acordo com a Petrobrás, que liderava o consórcio da área, adquirida em leilão da Agência Nacional do Petróleo (ANP). A dupla tem sociedade em algumas das descobertas do pré-sal das águas ultraprofundas de Santos, incluindo Tupi e controla ainda outra concessão em águas mais rasas, o BM-S-50, que deve ter um poço perfurado este ano. A BG já declarou que o projeto Corcovado tem potencial de reservas na casa dos bilhões de barris.
A Exxon não tem se pronunciado sobre o potencial do BM-S-22, mas especialistas acreditam que o bloco é um dos mais promissores do pré-sal de Santos. O presidente da Exxon, Rex Tillerson, afirmou que "não há dúvidas do grande potencial do pré-sal", mas ainda é cedo para qualquer projeção.
Um terceiro poço de extensão de descoberta no pré-sal será perfurado no fim do ano pela americana Anadarko, que anunciou no ano passado a descoberta de reservatório abaixo do sal no norte da Bacia de Campos. O diretor executivo da empresa no Brasil, Cláudio Araújo, informou ao Estado que a perfuração depende apenas de liberação, pela Petrobrás, da sonda Deepwater Millenium, que está sendo usada pela estatal em blocos na Bacia do Espírito Santo.
A companhia estuda ainda a perfuração de um segundo poço na mesma região, no bloco BM-C-32, com características semelhantes às do Campo de Jubarte, onde saiu o primeiro óleo do pré-sal brasileiro. A descoberta no BM-C-30, batizada de Wahoo, foi a primeira do pré-sal feita sem participação da Petrobrás e tem como parceiros a americana Devon, a canadense Encana e a sul-coreana SK.
A anglo-holandesa Shell pode ser a próxima estrangeira a operar poços no pré-sal brasileiro. A companhia contratou uma sonda com capacidade para atingir grandes profundidades e espera iniciar, até o fim do ano, o trabalho no bloco BM-S-54, projeto batizado de Epitônio. Na semana passada, o gerente da companhia, Kent Stingl, disse ao Estado que a empresa também vai estudar a perfuração de poços no pré-sal do norte da Bacia de Campos.
Stingl é responsável pelo projeto BC-10, batizado de Parque das Baleias, que começa a produzir óleo do pós-sal no segundo semestre. O bloco fica ao lado do Parque das Conchas, onde a Petrobrás descobriu reservas no pré-sal. "Qualquer empresa que tenha reservas no Brasil vai começar a olhar para o pré-sal daqui em diante", diz o presidente da Chevron África e América Latina, Ali Moshiri.
(Nicola Pamplona, O Estado de S. Paulo, 17/05/2009)