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frigoríficos/agroindústrias perdigão-sadia
2009-05-15

Para atribuir o caráter de fusão que deve envolver a compra da Sadia pela Perdigão, a companhia resultante terá um novo nome: Brazil Foods. Esse será a identidade da sociedade anônima que nascerá da união das companhias por troca de ações. As marcas, porém, serão mantidas no mercado. Outra iniciativa que visa colocar as empresas em condição de igualdade é a presidência do conselho de administração, que será dividida entre Nildemar Secches, da Perdigão, e Luiz Furlan, da Sadia. O conselho de administração terá onze membros. Além da co-presidência, os atuais donos da Sadia, Fontana e Furlan, terão direito a mais dois participantes. Outro três serão independentes.

Ao fim da troca de ações e antes da emissão de papéis que capitalizará a nova companhia, a Previ, Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil, e a família organizada terá fatia equivalente, em torno de 12%. A composição da Brazil Foods será de 33% dos acionistas da Sadia e o restante da Perdigão. Num primeiro momento, também os presidentes executivos serão mantidos: Gilberto Tomazoni, pela Sadia, e José Antonio do Prado Fay, cuidando da Perdigão.

Até o fechamento desta edição, o contrato da união ainda não estava assinado, mas já estava na fase de revisão, sem nenhuma pendência. A tão aguardada união das empresas só se concretizou devido à delicada situação financeira da Sadia, após a perda de R$ 2,6 bilhões com derivativos. Não é primeira vez que uma fusão foi negociada e houve até mesmo uma iniciativa concreta: em 2001 as companhias fizeram a BRF Internacional Food, uma trading para atender Rússia, Egito, Cuba e África do Sul. O negócio não vingou.

O comunicado com a operação está previsto para hoje. Ainda ontem à noite, as companhias divulgaram, sem comentar, os resultados do primeiro trimestre. Os números não deixam dúvida. Mais um trimestre na mesma toada e a Sadia ficaria com o patrimônio líquido negativo. Na prática, significa que tudo o que ela tem valeria menos do que suas dívidas. A companhia fechou março com patrimônio líquido de R$ 176,9 milhões, após uma queda de 57% frente dezembro. Em relação a junho do ano passado, antes do problema com os derivativos, o patrimônio da empresa era de R$ 3,1 bilhões: a queda desde então foi superior 94%.

A rápida deterioração patrimonial da Sadia é fruto do aumento contínuo da dívida e da queima do caixa por conta dos derivativos, combinada a um cenário operacional que não é dos melhores, dada a situação do mercado externo. Com isso, a companhia teve prejuízo de R$ 239,2 milhões de janeiro a março deste ano, ante lucro de R$ 248,3 milhões em igual intervalo de 2008.

A empresa teve receita líquida de R$ 2,5 bilhões no primeiro trimestre deste ano, com alta de 8,1%, puxada unicamente pelas vendas domésticas. O cenário externo fraco não permitiu a diluição do aumento dos custos com grãos, com as paradas técnicas na linha de aves e com os gastos de implantação das unidades de Vitória de Santo Antão e Lucas do Rio Verde. Resultado disso: a margem bruta caiu de 23,7% para 15,7%.

A perda de rentabilidade operacional somada a um pesado serviço de dívida geraram uma despesa financeira líquida de R$ 260 milhões, ante receita de R$ 90 milhões. A companhia fechou março com dívida total de R$ 9,4 bilhões, para um caixa de R$ 1,3 bilhão. A Perdigão também não teve um bom trimestre. A companhia fechou o período com prejuízo de R$ 226 milhões, ante lucro de R$ 51 milhões, no mesmo intervalo do ano passado.

A principal explicação para a perda foi o elevado nível de estoque do período, a despeito do esforço da empresa para conter a oferta com paradas de produção, diante da retração na demanda internacional. Além disso, a despesa financeira subiu 190,5%, para R$ 100,3 milhões. Mesmo com o cenário econômico adverso, a empresa elevou em 5,7% o faturamento líquido, para R$ 2,6 bilhões. A margem bruta sofreu menos que a da Sadia, recuando de 21,8% para 20,5%. Mas o lucro bruto foi praticamente todo consumido com a alta nas despesas operacionais, afetadas pelo elevado estoque. O gasto chegou a R$ 531 milhões, 19,2% superior do que em 2008.

(Por Graziella Valenti e Alda do Amaral Rocha, Valor Econômico, 15/05/2009)


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