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direitos indígenas mbya-guarani
2009-05-15

Nosso Povo Guarani desde a colonização portuguesa e espanhola sofre perseguições, massacres, confinamentos e tem seus direitos territoriais originários e constitucionais negados pelo poder público. Nós somos tratados como se fossemos os restos de um povo ao qual, para as nossas famílias viverem, vem sendo destinado alguns metros de terra, que na maioria das vezes são devolutas, nas margens das estradas, sobre os barrancos, na beira de sangas poluídas e/ou em pequenas capoeiras próximas de grandes fazendas. Por nos tratarem como restos nos destinam as pequenas sobras de terras que pelos brancos são desprezadas. E não raras às vezes dizem que somos preguiçosos, que não queremos trabalhar e que vivemos como bichos. Mas quando decidimos retomar terras que são nossas, se reivindicamos direitos, se exigimos do poder público que nos respeite e demarque nossas terras então somos tratados com arrogância e dizem que somos manipulados por terceiros.

Mas, apesar desta realidade tão adversa, nós somos um grande povo que resiste ao modelo de dominação dos brancos e nos colocamos contra as suas estruturas de poder e de fazer política. Nós acreditamos na nossa força e na nossa cultura, por isso resistimos aos massacres, à catequização forçada, a escravização de nossos antepassados, às guerras contra nosso povo, que foram impostas porque queríamos viver em paz nas nossas terras. Resistimos e vivemos construindo história, embora esta seja negada por aqueles que fazem livros. E assim como os brancos têm seus heróis nos seus livros de história, nós também temos os nossos, mas os nossos os brancos dizem que são pequenos, não aparecem em seus livros, nas suas histórias, e quando aparece um de nossos heróis, em função de sua luta com o seu povo, os brancos também querem dominar o seu significado e se apropriar de seu simbolismo. Roubaram-nos a vida, roubam-nos os direitos, roubaram nossas terras e querem tomar conta de nossos heróis.

E isso está acontecendo no município de São Gabriel, Rio Grande do Sul, local onde um de nossos heróis, o Sepé Tiaraju, e milhares de outros lutadores Guarani foram massacrados, no ano de 1756, por soldados da Espanha e Portugal e foram massacrados porque estavam defendendo a terra, a nossa mãe terra que,  já naquele momento da história, era atacada, mal tratada e roubada pelos colonizadores que vinham da Europa. Mataram milhares de Guarani e hoje nós lembramos deles, porque são parte de uma mesma história que vivemos, só que em outro tempo. Lembramos de Sepé Tiaraju pela sua coragem e valentia. Mas os brancos, que são herdeiros dos invasores de nossas terras, querem este herói para si e dão a ele um outro rosto, que não é o rosto Guarani. E os brancos fazem isso porque têm medo do índio, do Guarani de hoje e por causa do medo estão preocupados com o que pretendemos fazer resgatando a memória daqueles que lutaram pelas nossas terras, as mesmas que eles ocupam.

Por medo, os brancos possuidores de grandes extensões de terras na região de São Gabriel, mandaram o prefeito do município, derrubar o monumento erguido em homenagem ao Sepé Tiaraju e aos demais Guarani chacinados em 1756. Eles têm medo e por isso querem apagar da memória as culpas que carregam sobre as costas naquelas terras. Mas a nossa memória não vai ser apagada por causa do medo dos fazendeiros. A nossa existência é mais rica e antiga que a deles, nossa memória é religiosa, está ligada a Nhanderu, que nos ilumina, nos dá força e coragem. E com Ele estaremos lutando por uma outra maneira de viver.

Esta cultura dos brancos, que chamamos de juruá, de fato não serve como modelo para o mundo de ninguém e é por isso, que os Guarani lutam por uma terra sem mal, onde não existirá nem maiores e nem menores, onde todos seremos filhos da mesma terra mãe. A mãe terra que está sendo consumida pela fumaça das usinas, dos carros, que está sendo contaminada com os venenos das fábricas e plantações, que está sendo tratada como mercadoria para ser consumida e depois não restará mais nada dela.

Nosso povo luta e continuará a lutar pela terra. De nosso modo, com paciência, mas com a força sagrada de nossos velhos, nossos Karaí, as Kunhã Karaí, que nos ensinam a viver, nos aconselham a sermos bons com todas as pessoas, a tratar todos com igualdade. E seguiremos, andando, procurando por nossa terra, construindo nosso bem viver e exigindo das autoridades que cumpram com seu dever de demarcar as terras que as leis dos brancos, escritas pelos brancos determinam que esse nosso direito deve ser assegurado.

(Por Maurício da Silva Gonçalves, Coordenador da CAPG - Coordenação e Articulação do Povo Guarani do Rio Grande do Sul, CIMI, 13/05/2009)


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