Ser "verde" não é um modismo. É necessário para a existência contínua da vida neste planeta. Apesar dos alertas científicos reputáveis dos danos inevitáveis e irreversíveis, a debilitação persiste. Talvez, não saibamos o suficiente sobre o que podemos fazer, ou não nos preocupamos com isso.
Shirley Ann Jackson, presidente do Rensselaer Polytechnic Institute, resume o próximo passo: "Os EUA precisam de um corajoso plano que desperte a nossa imaginação coletiva, que provoque a inovação e que crie segurança econômica e nacional".
Em 2007, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o órgão de maior autoridade no mundo de cientistas do clima, publicou o seu 4º Relatório de Avaliação, afirmando que as tribulações das mudanças climáticas se devem à ação humana e convocando todos para uma conscientização de que precisamos fazer mais, particularmente quando aqueles que mais lutam por causa das mudanças climáticas são aqueles que têm as menores pegadas de carbono [1].
Como podemos, como nação, nos permitir manter-nos ignorantes dos perigos para os demais que resultam do nosso estilo de vida? Só imaginar todas as coisas que temos que mudar em nossas vidas cotidianas nos faz suspirar pelos dias passados. Mas a mudança é parte da vida, talvez a sua verdadeira essência. Lembram-se da vida sem celulares ou computadores? Não era tão ruim.
Há ainda mais evidências para a necessidade da mudança. Estamos em meio a uma profunda recessão, e muitos temem pelo que isso poderá significar ao nosso país. Mas a recessão, eu acredito, pode ser uma oportunidade para nos tornarmos mais fiéis à sustentabilidade do que ao consumo, e mais preocupados com o que podemos fazer pela saúde da Terra. Uma nação que realize sua interconexão com o resto da vida no planeta pode viver uma realidade mais compassiva e justa. Se adotarmos por vontade própria esse estilo de vida, não o vendo como um declínio no status econômico, então progrediremos ao criar uma América mais sustentável.
Nosso chamado à ação é para garantir a sustentabilidade do nosso país enquanto ainda podemos. Parte dessa ação apelaria à segurança econômica e nacional e envolveria, por exemplo, investimentos federais para o financiamento de novas empresas, revisitando o sistema misto de regulamentos de transmissão de poder e criando padrões interoperáveis para grades de energia inteligente. Também deveria envolver a oferta de bolsas de estudo para aqueles cujo foco não é apenas a relação entre ecologia e economia, mas também a tentativa de criar novas tecnologias sustentáveis para o futuro.
A atenção deveria ser colocada no atual sistema de comércio de cotas de emissões de gases [cap-and-trade system] que reduz com frequência a poluição, ao permitir que seus emissores negociem entre si. Talvez, possamos nos voltar para um sistema de divisão de lucros das cotas [cap-and-dividend system], em que as receitas geradas pelo leilão de permissões sejam dadas aos lares familiares, e não às indústrias.
Então, você ganha se economizar energia e você perde se desperdiçar energia. A receita vem na forma de dividendos distribuídos igualmente. Uma família média, com isso, poderia economizar US$ 1.160 por um corte de 15% nas emissões, de acordo com o Gabinete de Orçamento do Congresso. Esse sistema tornaria possível achar a segurança ecológica no meio da crise econômica.
O objetivo de se criar um país sustentável está centrado no bem comum e na justiça para a humanidade e para a própria Terra. Concretamente, porém, o objetivo deve estar focado também na tecnologia de energia limpa voltada a frear as mudanças climáticas. Grande parte disso requer aquela corajosa imaginação ética.
Enquanto tomar o ônibus ou o sistema de metrô local para ir ao trabalho em vez de dirigir parece uma expectativa legítima, muitas pessoas ainda vivem em áreas urbanas onde o trajeto até a parada de ônibus mais próxima é de mais de um quilômetro, e o número de conduções seria um incômodo. Mesmo que para alguns pareça excessivo utilizar lâmpadas fluorescentes compactas para diminuir o uso de energia, isso pode gerar uma economia de US$ 120 por ano.
Os norte-americanos provavelmente teriam mais compaixão pelo bem comum se soubessem que vão ganhar com isso no curto prazo.
O recente libro "Nudge: Improving Decisions About Health, Wealth, and Happiness", de Cass Sunstein e Richard Thaler, destaca três princípios para se alcançar uma menor pegada de carbono nacional.
Primeiro, tornar os custos visíveis. Permitir que as pessoas saibam quanto o seu uso de energia está lhes custando. Em programas de testes que utilizam uma pequena "ambient orb" [uma espécie de bola de cristal; veja aqui um exemplo], que brilha na cor vermelha nos períodos mais altos da demanda e em verde nos períodos mais baixos, as famílias reduziram seu consumo em 40%.
Segundo, listar normas sociais como uma competição saudável ao apresentar aos proprietários em suas contas de luz uma comparação entre o seu uso de energia com as demais pessoas do seu bairro que vivem em casas do mesmo tamanho.
Terceiro, tornar a mudança simples. Acordar duas horas mais cedo todas as manhãs para caminhar até a parada de ônibus mais próxima? Não é prático. Mas instalar um disjuntor em sua casa que corta a eletricidade de todos os aparelhos não essenciais assim que você sai de cada toda a manhã é fácil.
Nessa recessão, nos vemos renunciando às nossas ocasiões normais de sair para comer. Muitas famílias e indivíduos decidiram que as refeições em casa são a melhor opção. O preço da comida, incluindo as frutas, vegetais e carnes, disparou. A quantidade de combustível gasto para transportar as frutas e os vegetais contribui para uma maior pegada de carbono e custos mais altos.
A carne também é considerada insustentável, já que os altos níveis de metano liberados nas fazendas são uma das principais causas das mudanças climáticas. Nosso futuro em um modo de vida sustentável irá requerer pequenas mudanças nos hábitos de compras de cada cidadão e nos desejos alimentares para promover uma agricultura e uma alimentação sustentáveis. Nesse caso, eliminando ou limitando carnes e alimentos processados ou fora de época no menu diário e acrescentando alimentos locais, melhoraremos a nossa saúde e economizaremos dinheiro. E é fácil.
Um incentivo extra é que os alimentos vendidos em mercados de agricultores locais crescem organicamente, o que não apenas combate as mudanças climáticas, mas também diminui a degradação das formas de vida e melhora a saúde dos trabalhadores.
No meio da recessão, nos vemos nos desfazendo de partes do nosso estilo de vida apenas para sairmos bem dessa. Para muitos, essa é uma realidade desconfortável, mas eu tenho esperança de que o que aprendamos na arte da simplicidade nesses meses ou anos que virão irá transformar os valores norte-americanos de consumo em valores de uma cultura sustentável pelo apoio coletivo de cada um a imaginações corajosas. Por consequência, isso não prejudica a Terra, não polui os nossos rios e oceanos e não conduz à supressão da dignidade humana das pessoas daqui ou de fora do país.
Não é isso que a nossa vocação cristã nos pede?
Notas:
1. Do inglês, "carbon footprint", termo que se refere ao levantamento das emissões de dióxido de carbono em todas as fases da cadeia de produção. [voltar ao texto]
(Por Irene A. Quesnot*, IHUnisinos, 08/05/2009)
* Atua na igreja da Universidade de St. Mary, em San Antonio, nos EUA, em artigo para o sítio National Catholic Reporter.
Tradução por Moisés Sbardelotto.