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chevron-texaco petróleo na amazônia amazônia equatoriana
2009-05-14

A companhia de combustíveis e lubrificantes Chevron descobriu que o programa de TV americano 60 Minutes, da rede CBS, estava preparando uma reportagem potencialmente danosa sobre contaminação na floresta amazônica no Equador. O que fez? Contratou um ex-jornalista para produzir a mesma matéria, mas com o ponto de vista da companhia. Gene Randall, ex-correspondente da CNN, passou cinco meses no projeto, que teve seu resultado divulgado na internet em abril, três semanas antes da edição do 60 Minutes, no ar no início de maio. "A Chevron me contratou para contar seu lado da história. Foi isso o que fiz", justifica Randall. O caso serve de exemplo do quão longe grandes empresas vão para combater a publicidade negativa.

As duas matérias em vídeo – com os "dois lados" da história – têm cerca de 14 minutos e tratam de uma ação aberta por equatorianos que acusam a Texaco, que pertence à Chevron desde 2001, de envenenar a floresta. Um juiz do Equador deve decidir em breve se a companhia terá que pagar até US$ 27 bilhões em danos, o que, segundo o correspondente do 60 Minutes Scott Pelley, seria "a maior ação ambiental da história".

As duas reportagens começam com um correspondente falando sobre a dura disputa judicial. A partir daí, seguem por caminhos diferentes. A matéria do 60 Minutes visita a floresta, conversa com o juiz equatoriano e entrevista um gerente da Chevron. Já o vídeo da companhia entrevista este mesmo gerente e cinco professores que atuam como consultores para a empresa, mas não fala com nenhum dos acusadores e usa imagens de arquivo da floresta.

Resposta
Em nenhum momento o vídeo da Chevron diz claramente se tratar de jornalismo. Mas seu formato faz o espectador ser facilmente levado a crer que se trata de uma reportagem investigativa. A peça foi postada no YouTube e no próprio sítio da empresa. Procurada pelo New York Times, a Chevron não quis responder a questões sobre o vídeo, mas, em declaração, afirmou que ele foi "produzido em resposta a uma campanha travada por advogados. Eles se voltaram a Hollywood para contar uma história de ficção. Nós nos voltamos a um premiado ex-jornalista para contar uma história verdadeira".

Randall, que atua como consultor corporativo desde que deixou a CNN, em 2001, já havia trabalhado com a Chevron anteriormente, entrevistando o executivo chefe da companhia para um vídeo interno. Quando foi procurado no ano passado para tocar o projeto do Equador, ele disse que, depois de pesquisar o assunto, ficou convencido de que a empresa não havia tido a oportunidade de contar sua versão do caso. "Isso não é uma reportagem jornalística. Trata-se de um cliente contratando um serviço para contar seu lado da história", diz. O vídeo termina, entretanto, com o ex-jornalista dizendo "reportagem de Gene Randall".

Jeff Fager, produtor executivo do 60 Minutes, diz que gostaria que sua equipe tivesse o mesmo acesso à Chevron que Randall teve. Segundo Fager, a principal cientista ambiental da empresa, que aparece no vídeo corporativo, não concedeu entrevista ao programa de TV. "Tenho certeza de que a Chevron prefere a história que contou à que nós contamos, mas aquilo não é jornalismo, é uma peça de defesa", diz o produtor. Ainda assim, a estratégia da companhia não parece ter alcançado seu objetivo. Enquanto a reportagem do 60 Minutes foi vista por pelo menos 12 milhões de telespectadores, o vídeo da Chevron teve apenas dois mil acessos no YouTube.

(Por Brian Stelter, The New York Times / Observatório da Imprensa, 12/05/2009)


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