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eletrobrás hidrelétricas no brasil angra 3
2009-05-13

Enquanto discute com o governo o pagamento de dividendos retidos, a Eletrobrás tem planos de investir R$ 30,2 bilhões entre 2009 e 2012, contando parcerias, recursos a contratar e outros. Entre os projetos estão a usina nuclear Angra 3 e a gigantesca hidrelétrica Belo Monte (11.181 MW), no rio Xingu. O orçamento de investimentos para 2009 previsto no Programa de Ações Estratégicas da Eletrobrás (PAE), somando recursos de parceiros, é de R$ 8,7 bilhões. Até 2012 ela pretende aumentar sua capacidade de geração em 6.459 megawatts (MW), construir mais 10.386 quilômetros de linhas de transmissão de energia e começar a construir e testar Angra 3, prevista para entrar em operação em 2014. As empresas que fazem parte do Sistema Eletrobrás têm capacidade de gerar 39.402 MW, incluindo a metade de Itaipu Binacional, o que representa 38% da capacidade instalada de geração do Brasil, que é de 103.033 MW contando as térmicas movidas a gás natural e a carvão.

A holding controla Furnas, Chesf, Eletronorte, Eletrosul, Eletronuclear, a CGTEE e as distribuidoras Eletroacre (AC), Ceal (AL), Cepisa (PI), Ceron (RO), Amazonas Energia (AM) e Boa Vista Energia (RR), sem contar seu centro de pesquisas, o Cepel. Controla ainda 56% das linhas de transmissão do país, além dos projetos em andamento ou adquiridos no leilão realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na semana passada.

Além de Belo Monte, o plano de investimento contempla a disputa para construção de seis usinas hidrelétricas no rio Tapajós com capacidade de gerar 10.682 MW que serão licitadas até dezembro de 2010 e os estudos para construção das hidrelétricas Marabá (2.160 MW) e Serra Quebrada (2.328 MW). Os estudos de impacto ambiental das duas últimas serão concluídos até dezembro de 2009.

Para o complexo de Tapajós, atual menina-dos-olhos do presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz, a empresa fechou um acordo com a francesa EDF, que vai participar dos estudos de viabilidade técnica e ambiental. Um documento foi assinado durante a vinda presidente da França, Nicolas Sarkozy, prevendo uma troca de informações entre Brasil e França por meio da EDF e da Eletrobrás. O acordo prevê ainda troca de informações sobre energia nuclear, da qual a francesa é uma das maiores especialistas do mundo. Astrogildo Quental, diretor financeiro da estatal, conta que a EDF propôs logo sua entrada no projeto, mas a avaliação foi que ainda era cedo.

Para Belo Monte a Eletrobrás já decidiu que vai participar apenas por intermédio de uma de suas subsidiárias, a Eletronorte, associada a parceiros privados, evitando o que aconteceu no leilão das hidrelétricas do Madeira, quando as subsidiárias disputaram entre si, cada uma associada a um consórcio de empresas privadas. "Se nós perdermos, e essa for a regra do jogo, vamos ficar só com as usinas do Madeira", explica Quental.

Além das ambiciosas metas de expansão do seu parque de geração no Brasil, a holding também tem planos grandiosos para outros países. A meta de internacionalização da Eletrobrás prevê a geração de até 18 mil MW no exterior e a construção de 11 mil quilômetros de linhas de transmissão de energia até 2012. A companhia montou na semana passada um escritório em Lima, no Peru, onde estuda projetos para construção de seis usinas na fronteira com o Brasil, as hidrelétricas Inambari (2.000 MW), Sumabeni (1.074 MW), Paquitzapango (2.000 MW), Urubamba (940 MW), Vizcatán (750 MW), Cuquipampa (800 MW), além de uma linha de transmissão. Também estuda a construção de uma hidrelétrica na África, na fronteira de Angola com a Namíbia.

O financiamento para tantos projetos deve vir, em grande parte, do BNDES, apesar da Eletrobrás se encontrar atualmente às voltas com uma nova negociação que permita ao banco emprestar R$ 4,5 bilhões para a construção de Angra 3. De novo, o BNDES já está no limite do financiamento para o setor público, o que vai exige uma nova excepcionalidade do Conselho Monetário Nacional (CMN) para que o empréstimo seja concedido. Dos R$ 7,5 bilhões previstos no orçamento para a construção da terceira usina nuclear brasileira, estão programados ainda um empréstimo internacional de R$ 1,5 bilhão vinculado à compra de equipamentos e mais R$ 1,5 bilhão em recursos da própria Eletrobrás.

Quental explica que no momento o BNDES também quer detalhamento do modelo de comercialização da energia que será produzida por Angra 3. Atualmente toda a geração de Angra 1 e Angra 2 tem Furnas como intermediária. Ela compra a energia da Eletronuclear e repassa a energia para o mercado, nem sempre com lucro na operação. "Esse modelo não é bom. Furnas já tem os problemas relacionados aos contratos de importação com a CIEN, a térmica do Pantanal e as usinas nucleares", ressalta o diretor.

Apesar dos grandes projetos de geração e transmissão de energia tomarem grande parte dos recursos da Eletrobrás, a empresa continua recebendo ofertas para aumentar sua participação ou entrar no capital de empresas de distribuição. Quental admite conversas para aumentar a participação na Celpa de 34% para 49%. Mas não é só. Segundo ele, a Eletrobrás também tem tido conversas com os estados de Goiás, Roraima e Amapá sobre as problemáticas distribuidoras Celg, Companhia Energética de Roraima (CER) e Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA). Além de inadimplentes com os pagamentos pela energia que consomem, elas querem uma participação da Eletrobrás em seu capital.

"Não sei como vai acabar essa situação, não há nenhum acordo fechado, só conversas", explica. Sobre a possibilidade de vender suas participações na distribuição para focar sua atuação e fazer caixa para investimentos, Quental diz que esse não é a intenção já manifestada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além de controlar seis distribuidoras, a Eletrobrás tem participação acionária em outras empresas como a Cemar, do Maranhão, a Centrais Elétricas Matogrossenses (Cemat), a Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), a gaúcha Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP).

(Por Cláudia Schüffner, Valor Econômico, 13/05/2009)


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