Os problemas ambientais causados pelos resíduos sólidos das empresas curtidoras de couro gaúchas poderão sofrer uma benéfica redução. Na próxima sexta-feira, no município de Portão, entra em operação, em caráter experimental, a primeira fábrica de fertilizantes que utiliza como matéria-prima os restos não aproveitados dos curtumes.
A informação foi revelada ontem durante uma reunião-almoço na Associação das Indústrias de Curtume do Rio Grande do Sul (AICSul), em Novo Hamburgo. No encontro, foi apresentado o projeto da Ilsa Brasil, empresa de capital ítalo-brasileiro, formada a partir da Ilsa SPA, que tem sede na cidade italiana de Arzignano, um dos distritos curtidores mais importantes do mundo.
Durante a reunião, o presidente da Ilsa SPA, Paulo Girelli, destacou que a missão da empresa é "produzir e desenvolver adubos nitrogenados com elevada eficiência nutritiva para a agricultura biológica e especializada". Em 2008, a Ilsa exportou seus produtos para 31 países de cinco continentes. É líder na Itália na produção de adubo orgânico, possuindo uma capacidade de processamento de 60 mil toneladas de resíduos por ano, que geram 34 mil toneladas anuais de adubo orgânico e 62 mil de adubo organo-mineral.
A unidade de Portão tem capacidade instalada para processar 35 mil toneladas por ano de resíduos, o que, segundo a AICSul, é a mesma quantidade de rejeitos sólidos produzida anualmente pelas indústrias curtidoras gaúchas. "Isso significa que o projeto apresentado pela Ilsa Brasil tem capacidade para absorver 100% dos resíduos do Estado", informa Leogênio Alban, vice-presidente da AICSul. Segundo o dirigente, a eliminação do passivo ambiental das empresas curtidoras gaúchas será o principal benefício das operações da Ilsa Brasil. "Além de gerar altos custos para os curtumes, o depósito de resíduos em aterros também torna essas empresas corresponsáveis quando ocorrem problemas ambientais nesses locais", lembrou.
A partir dos resíduos coletados, a fábrica terá condições de produzir 20 mil toneladas por ano de adubo orgânico. Toda a produção será exportada para a Itália. Os testes para o registro do produto no Brasil já estão sendo desenvolvidos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e devem durar ainda dois anos. No entanto, as perspectivas de comercialização em território nacional são excelentes. "O Brasil tem dependência de nitrogênio, e nós iremos fabricá-lo em uma boa quantidade", informa Viviane Diogo, diretora da Ilsa Brasil.
A operação efetiva da unidade brasileira deve começar no início de junho. O foco do investimento da Ilsa no Brasil é oferecer uma alternativa de eliminar o passivo ambiental gerado pelos resíduos de couro curtido, produzindo adubos nitrogenados com elevada eficiência nutritiva para a agricultura.
"Vamos visitar os curtumes do Rio Grande do Sul e conhecer seus tipos do resíduo, seus volumes e qualidades, e assim fazer acordos que sejam mais interessantes economicamente do que despejar o descarte em um aterro", afirma Viviane.
(Jornal do Comércio, 13/05/2009)