Chefe do Estado-Maior do Comando Militar da Amazônia defende o papel do exército em uma nova abordagem política para o desenvolvimento da floresta.
Durante uma conferência de imprensa realizada no último sábado (09/05) na Universidade de São Paulo (USP), o Chefe do Estado-Maior do Comando Militar da Amazônia General Eduardo Dias da Costa Villas Boas defendeu uma mudança na forma como é tratada hoje a problemática da maior floresta tropical do mundo. O evento fez parte da programação do projeto "Repórter do Futuro: Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter", realizado pela Oboré e teve como tema "A Importância Estratégica da Amazônia Brasileira".
Em um pronunciamento que durou cerca de meia hora, o General discutiu o papel do exército na transformação dos conflitos da Amazônia. Segundo Villas Boas, a atual política que busca equalizar os problemas da região seria mais efetiva com um olhar regional sobre cada local e suas características. "O ser humano da Amazônia tem que ser ouvido para entendermos suas necessidades", afirmou o General. Além da regionalização das políticas, Villas Boas destacou a ocupação como decisiva para a resolução dos diversos conflitos que existem na floresta. "A defesa da floresta tem muito mais a ver com ocupação do que com presença militar", explicou. Segundo o general, outro ponto que faz da presença humana um fator indispensável para o desenvolvimento da região é o potencial da Amazônia como elemento de integração Sul-Americana.
O general acredita que com o asfaltamento completo da BR-163 (Cuiabá-Santarém) e a conclusão da rodovia transoceânica, que ligará Rio Branco (AC) a três saídas para o Oceano Pacífico, no Peru, a região tornar-se-ia o coração comercial do continente. "Manaus terá um papel muito importante neste cenário, pois além de ser uma metrópole, ainda está no centro geográfico dos nove países amazônicos", afirmou Villas Boas. Questionado sobre quais têm sido as políticas de integração na região, Villas Boas deixou sua crítica ao governo federal quanto à falta de vontade política. "A integração têm sido muito rarefeita. O Brasil não tem um projeto de nação, logo, não tem projeto para a Amazônia".
Apesar de ter tocado diversas vezes nas preocupações ambientais inerentes ao bioma, o General não falou sobre o problema fundiário ou sobre os impactos das grandes obras desenvolvimentistas, inclusive defendidas por ele. Vale lembrar que o modelo de implementação de rodovias federais é amplamente criticadas por entidades da sociedade civil organizada e especialistas em meio ambiente.
O Evento
Outros dois palestrantes participaram da conferência: o titular do departamento de geografia da USP Dr. Wanderley Messias da Costa e o jornalista consultor da TV Cultura e colaborador do jornal Estado de S. Paulo Washington Novaes. O primeiro a tomar a palavra foi o prof. Wanderley, que usou seus trinta minutos para expor um panorama mais geral e geográfico da floresta.
Além de dados científicos sobre a magnitude do bioma, Wanderley focou a questão da rentabilidade econômica da floresta, usando como termômetro o gado, principal atividade econômica da Região Norte. Segundo dados apresentados pelo pesquisador, a rentabilidade líquida por hectare de pecuária Amazônica chega a ser duas vezes maior do que regiões tradicionalmente fortes na atividade, como o município de Tupã, em São Paulo. Wanderley aproveitou a oportunidade para criticar a falta de pesquisas em biodiversidade na floresta e a questão fundiária, grande problema da região. "O grande problema é o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), que hoje é o maior latifundiário do mundo", afirmou.
Washington Novaes também focou sua exposição nas problemáticas da Amazônia e a falta de políticas públicas para resolvê-las. "O Brasil deveria ter uma estratégia com serviços ambientais como foco central", afirmou Novaes. O jornalista falou sobre cada uma das grandes questões que constituem o dilema da Amazônia hoje: falta de recursos federais, questão fundiária, agressividade da agropecuária, hidrelétricas como modelo de geração de energia, e fez questão de destacar a constante presença do governo nestes problemas através de subsídios. "Só no caso de Tucuruí, foram U$4 bilhões em subsídios", criticou. Novaes também chamou atenção para a falta de repasse de verbas para a população "A Amazônia concentra 4% dos gastos federais, mas abriga 12% da população brasileira. Algo está errado", e concluiu "A versão de que o crescimento econômico vai resolver tudo está errada. Este modelo é insustentável. É preciso outro tipo de desenvolvimento".
(Por Flávio Bonanome, Amazonia.org.br, 12/05/2009)