Pescadores afirmam ser ameaçados de morte com regularidade. Pelo menos quatro deles relataram casos de disparos de armas de fogo vindos de dentro dos canteiros das obras.
Na praia de Mauá, em Magé (RJ), 43 pescadores mantêm há um mês bloqueios à circulação marítima do projeto gás liquefeito de petróleo (GLP) da Petrobras, administrado por um consórcio entre a GDK e a Oceânica. Com redes e barcos simples, impedem passagens em regiões estratégicas do mar, impossibilitando o acesso de mergulhadores e o resgate de tubulações importantes para o andamento da obra. Segundo levantamento da Associação Homens do Mar da Baía da Guanabara, o projeto reduziu a pesca em até 70% do volume original. A instituição também descobriu irregularidades ambientais no projeto. “A obra não tem anuência do município, licença de canteiro, nem as autorizações ambientais devidas”, afirma Alexandre Anderson, líder dos manifestantes.
Em protesto desde 9 de abril, os pescadores afirmam ser ameaçados de morte com regularidade. Pelo menos quatro pescadores relataram casos de disparos de armas de fogo vindos de dentro dos canteiros das obras. Vítima de uma dessas tentativas de homicídio, Alexandre dorme em distintos lugares todas as noites, e sua esposa já estaria sendo ameaçada. “Desde o atentado eu ainda não fui à minha casa. Pedi ao meu filho para não vir me ver. Nossa vida está um inferno, mas não vou largar a luta, e não vai ser um disparo que vai me parar”, conta.
As empresas do consórcio também reagem com boicote. O pescador Ivan Nunes já estava ingressando no projeto, para trabalhar como ajudante, quando foi avisado de que não seria mais contratado, devido à ação. “No dia em que eu iria pegar a carteira e o uniforme, eles disseram que eu estava dispensado. E que enquanto houvesse movimento, eu não trabalharia lá”, conta. A GDK chegou a demitir trabalhadores por serem parentes de manifestantes. Sérgio Cordeiro Júnior, que estava trabalhando há mais de um mês como lixador na empresa, foi demitido por ser filho da cozinheira da Associação. “Alegaram que minha mãe estava no movimento. Todo mundo que tinha alguma coisa a ver foi mandado embora. Foi uma semana inteira ameaçando, e depois me demitiram”, relata.
Também acusam e empresa de cortar suas redes de pesca e roubá-las. Márcio Amaro conta que sua rede foi roubada, rasgada, e “colocada dentro do canteiro, para mostrar. Depois a rede sumiu”. As denúncias também dão conta de desrespeito ao patrimônio histórico local – a obra fica na região de uma das primeiras ferrovias do país.
Todos os dias, das 7 às 18 horas, os 43 manifestantes ficam juntos no local, em protesto. No período restante, revezam-se. “Nós estamos nos patrulhando uns aos outros. Quando sai um, sai dois do lado. É por isso que o nosso grupo ainda está trinta dias aí”, diz Alexandre.
Segundo os manifestantes, as empresas evitam negociar, e não apresentam alternativas reais. Alexandre diz que “a única alternativa que eles deram foi o monitoramento da pesca, que nunca existiu. Só está no papel”. Os pescadores reivindicam que a própria Petrobras apresente alternativas para o impasse. Já se programa uma grande manifestação na região, com a participação de movimentos sociais e sindicatos. Também se pretende realizar uma audiência na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
(Por Leandro Uchoas, Brasil de Fato, 11/05/2009)