A ausência de um plano de desenvolvimento do governo federal para a região amazônica foi abordada em conferência de imprensa realizada na USP, no último sábado (09/05), no primeiro encontro do projeto Repórter do Futuro, que contou com três palestrantes: o professor Wanderley Messias da Costa, titular do Departamento de Geografia da USP, o jornalista Washington Novaes e o general Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, 7º Subchefe do Estado Maior do Exército.
Ao discutir a Amazônia, os três palestrantes ressaltaram os problemas da região, abordando especialmente a falta de um plano estratégico. "O governo teve entre a década de 60 e 70 a oportunidade de fazer um projeto e não fez", argumentou o general Villas Bôas ao iniciar sua apresentação. Segundo ele, o projeto amazônico a ser criado precisa ter quatro dimensões: humana, ambiental, econômica e científica-tecnológica.
Além disso, é necessário que as particularidades de cada região sejam consideradas. O general comparou o Pará, que possui alto desmatamento porque o setor mais desenvolvido é o primário extrativista, ao Amazonas, que apresenta melhor conservação e tem, por exemplo, a Zona Franca de Manaus, que cria 400 mil empregos diretos e indiretos. É preciso criar alternativas para que o desmatamento não seja a única, afirmou Villas Bôas.
Ações integradas
O que nós queremos da Amazônia? A resposta desta pergunta também deve ser estendida aos outros países da qual a Gran-Amazônia faz parte (Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela). A necessidade de uma política integrada de ações de preservação e colaboração conjunta entre os países é essencial. O professor Wanderley Messias da Costa citou como exemplos de integração o Mercosul, a Iniciativa para a Integração da Infra-Estrutura Regional Sul-Americana (IIRSA) e ainda a recente União das Nações Sul-Americanas (Unasul), criada em 2007. As instituições, porém, não compreendem todas as necessidades dos conflitos na Amazônia.
Questionado sobre a política de integração brasileira, o general Villas Bôas admitiu que as iniciativas realizadas não surtiram efeitos concretos. "Do ponto de vista internacional, até agora as ações são rarefeitas", observa. Ele acrescentou a importância de expandir os projetos conjuntos, iniciando pela unificação das legislações ambiental e indígena desses países.
Do ponto de vista internacional, e frente às limitações, Wanderley Costa defende que o Brasil é o país da região que tem a melhor legislação e uma discussão iniciada sobre o que fazer. "Porque, por exemplo, na Bolívia, Equador o desmatamento é menor? Porque a política para a região amazônica é deixar como está, já que são regiões de presença quase que puramente indígena", aponta o professor.
Presença indígena
"Porque não discutimos o modo como os indígenas vivem?", questionou o jornalista Washington Novaes aos estudantes do Repórter do Futuro. Sobre a demarcação de reserva indígena em áreas de fronteira, o jornalista comentou que desconhece – em 40 anos de profissão – denúncias de que os índios tivessem em algum momento facilitado invasões internacionais ou colaborado com qualquer ameaça à soberania nacional.
Pouco depois, o conflito ideológico sobre a questão indígena brasileira ficou evidente. O general Villas Bôas mostrou uma imagem de indígenas ianomâmis para expor o problema das demarcações e argumentou: "Esses índios brasileiros são os que devem estar mais atrasados do ponto de vista de evolução de conhecimento e tecnologia, estão no nível do paleolítico".
Ele também demonstrou, por outro lado, que a ausência de presença de poder potencializa e causa conflitos. Além disso, existem populações que não são indígenas que estão abandonadas, sem qualquer condição de exercer cidadania. "Não há como conter desmatamento, garimpo ilegal, e outros problemas sem medidas pró-ativas...essas populações não têm água, luz, esgoto, transporte, acesso à saúde", explica o general.
(Por Juliana Dal Piva, com edição de Rodrigo Brüning Schmitt, Ambiente JÁ, 12/05/2009)