Segundo meteorologia, frente fria sinaliza a perda de força do La Niña, que já colocou 210 cidades em emergênciaA chuva que começou a cair ontem sobre o Estado ainda não será capaz de resolver o drama da estiagem que deixa 210 municípios em situação de emergência, mas promete ser o prenúncio de um novo tempo.
Com a dispersão do fenômeno La Niña, que até então atuava como uma barreira contra a umidade, meteorologistas acreditam que as precipitações devem retomar sua regularidade a partir de agora.
Considerado o vilão desta estiagem, o La Niña tem efeitos no clima global porque altera a circulação das massas de ar. Ao reduzir a temperatura do Oceano Pacífico em até 1,5°C, o fenômeno diminui os níveis de evaporação e a consequente formação de umidade – o que contribuiu para que o Noroeste gaúcho acumulasse um déficit de 500 milímetros desde novembro. A boa notícia é que o sistema enfraqueceu, e a média histórica de 120 milímetros para o mês de maio no Estado pode ser finalmente cumprida, aliviando a penúria trazida pela pior seca desde 2005 (compare as duas estiagens no quadro ao lado).
– A situação no Pacífico se neutralizou, então não há mais impedimento para a chuva – analisa o meteorologista Luiz Cavalcanti, do Instituto Nacional de Meteorologia.
Mas os agricultores vão precisar um pouco de paciência. Embora o volume pluviométrico trazido pela frente fria que avança sobre o Estado possa alcançar até 100 milímetros entre hoje e amanhã nas regiões Central e Norte, a meteorologista Estael Sias, da Central de Meteorologia, adverte que as pancadas de chuva devem ser insuficientes porque serão isoladas, com risco de temporais em pontos do Estado.
O problema é que, quando as pancadas se concentram em curto espaço de tempo, o solo tem dificuldade em absorvê-las. Segundo o engenheiro agrônomo Renato Levien, professor da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), um terreno em boas condições consegue absorver até 15 milímetros por hora – caso o volume seja maior, a maior parte da água acaba desperdiçada.
A perspectiva da retomada do ciclo de chuvas garantiria a regularidade necessária para a recuperação. Levien calcula que 50 milímetros absorvida são suficientes para um solo seco voltar a produzir – mesmo com um déficit 10 vezes maior, de 500 milímetros.
– Para as culturas isso já seria suficiente, mas para repor os açudes e barragens vai levar mais tempo, claro, talvez só retome a situação normal no fim do inverno – pondera.
(Zero Hora, 12/05/2009)