Crise financeira, mudança climática e pobreza são alguns dos problemas da atualidade. Para Nobel da Paz de 2007, Mohan Munasinghe, especialista em energia, desenvolvimento sustentável e mudanças climáticas, as soluções não devem ser pensadas separadamente, pois assim acabam gerando novos problemas. “Para tornar o desenvolvimento sustentável, é preciso articular e equilibrar três aspectos: o econômico, o social e o ambiental”. No II Fórum de Comunicação e Sustentabilidade, ocorrido em São Paulo (SP), o economista e físico mostrou que hoje há um desequilíbrio entre os vértices do triângulo da sustentabilidade. “Devido à crise, foram destinados cerca de US$ 4 trilhões para estímulo ao sistema financeiro. Para solucionar o problema da pobreza, foram investidos US$ 100 bilhões. O valor para a questão ambiental é menor ainda”, exemplificou Munasinghe.
O economista fez ainda previsões relacionadas à mudança climática. Segundo ele, a temperatura crescerá mais de 3 graus até o final do século, o que provocará o derretimento de calotas de gelo e o desaparecimento de alguns territórios. Bangladesh, por exemplo, poderá perder até 17% de suas terras. “Precisamos fazer, agora, a transição para um mundo melhor. Com o conhecimento que já temos e por meio da união entre governo, empresas e sociedade civil”, afirmou o economista. Ele atribui à mídia um papel chave para promover o trabalho conjunto entre os três setores e ajudar na construção de um consumo mais sustentável.
O vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) também defendeu reformas nos mercados e nos órgãos internacionais como Organização das Nações Unidas (ONU), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial como medidas para um mundo mais sustentável.
Mudanças práticas
Segundo o IPCC, as emissões de gases estufas, apesar da assinatura de protocolos, subiram 70% nos últimos 30 anos. Para enfrentar esse problema, Munasinghe é favorável à adoção de políticas de adaptação e de mitigação. Para o prêmio Nobel, os países em desenvolvimento deveriam ser eximidos de qualquer limite de emissão de gás carbônico por um determinado tempo. Porque o desenvolvimento deveria ser colocado em primeiro lugar, tendo em vista a solução de questões relacionadas à pobreza. No entanto, eles devem ter ações de adaptação, ou seja, voltadas para a proteção da população contra os efeitos do efeito estufa. “Os mais pobres serão os mais atingidos pelas mudanças climáticas”, comentou.
Já os países desenvolvidos devem ter política de mitigação de emissão dos gases estufas, segundo Munasinghe. “Usar tecnologias modernas para diminuir as emissões. Também devem promover uma rede de cooperação com os países pobres, por meio de transferência de tecnologia e de apoio financeiro”. Segundo o economista, o investimento em reflorestamento e mudanças na agricultura são exemplos de ações concretas para a minimização dos problemas climáticos.
Outros aspectos para sustentabilidade
A senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, também alertou para a urgência da mudança de paradigma. “O quadro é dramático. Já estamos vivendo eventos extremos em decorrência da mudança climática”, comentou. Para a transformação, a senadora acredita que, além dos aspectos sociais, econômicos e ambientais, é necessário pensar em outras dimensões: a cultural, a ética, a política e a estética.
Segundo Marina Silva, a dimensão cultural comporta o respeito à diversidade. “É preciso ter um modelo de desenvolvimento em que sejamos capazes de conviver com as diferenças. O homem só se afirma pelo olhar do outro”. Já a dimensão estética está relacionada a um desenvolvimento em que o valor não está apenas no que é monetarizado. “Há um valor intangível nas coisas. Por exemplo, no Pão de Açúcar”, explicou.
Sobre o aspecto político, Marina enfatizou a importância dos cidadãos saberem escolherem seus representantes e também de darem sustentação política para aquilo que julguem relevante estar na pauta. A ex-ministra também chamou atenção para o que chama de “consenso oco”. “Hoje todos concordam que é importante preservar o meio ambiente, mas muitas vezes não se responsabilizam por esse processo”. Essa responsabilização faz parte da dimensão ética. No entanto, não basta apenas o pensamento e a vontade de mudança. “Não há receita, é um processo de construção histórica que deve ser democrático e transparente. E os líderes precisam ser comprometidos com soluções de longo prazo e com o trabalho com as pessoas”, concluiu.
(Por Talita Mochiute, Aprendiz / Envolverde, 11/05/2009)