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transgênicos contaminação transgênica rotulagem de transgênicos
2009-05-11

Entre 2003 e 2004, o Brasil se viu numa posição curiosa. Suas lavouras de soja transgênica se expandiram de 3 milhões para 5 milhões de hectares, segundo o Serviço Internacional de Aquisição de Aplicações de Biotecnologia Agrícola. Tornou-se o quarto maior produtor de transgênicos do mundo. Até então, plantar transgênicos era ilegal no país. Cedendo à pressão ruralista, o governo decidiu por MP que a soja Roundup Ready da Monsanto era segura para a saúde e para o ambiente.

Seis anos depois, não há evidência de colapso sanitário ou ambiental. Só moral, pela maneira como a soja foi liberada e pela forma como o governo manobrou para alterar o quórum da CTNBio. Devagar, o país começa finalmente a rotular seus derivados de soja. Até mesmo o óleo, que em tese nem DNA contém. Os temores, afinal, eram fantasias ecoxiitas. Com base em raciocínio análogo, libera-se o milho transgênico. Se a soja é segura, o milho há de ser também.

É aqui que os defensores da biotecnologia cometem o mesmo erro que seus detratores: botar todos os transgênicos no mesmo balaio. A biologia não permite esse tipo de simplificação. Em 2001, por exemplo, os pesquisadores californianos David Quist e Ignacio Chapela mostraram, em estudo na revista "Nature", que pólen de milho transgênico contaminara variedades de milho "criollo", produzidas tradicionalmente por lavradores mexicanos há milênios.

O estudo foi criticado por cientistas que recebiam financiamento de uma multinacional biotecnológica e retratado (anulado) pela revista. Em 2009, porém, uma pesquisa da Universidade Nacional Autônoma do México chegou à mesma conclusão que Quist e Chapela. O milho é uma plantinha promíscua, em que uma mesma espiga pode conter grãos vindos de pólen de vários "pais" diferentes.

Estudos de impacto seriam necessários para avaliar as consequências disso, mas eles não foram feitos no Brasil. No extremo oposto, a França cria um rótulo especial para produtos animais alimentados sem transgênicos. Devem estar achando que o DNA da comida, como um vírus, infectará a carne. Mendel gargalharia. Não há tecnologia nova livre de risco. A biotecnologia agrícola tem mostrado até agora que seus benefícios superam seus riscos. O diabo é que, como cada transgênico é diferente do outro, o passado não garante o futuro.

(Por Claudio Angelo, Folha de S. Paulo, 10/05/2009)


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