O efeito do fogo nos ecossistemas e em muitos processos no planeta, incluindo nas mudanças climáticas, teria sido subestimado até agora, afirma um novo estudo
Um grupo de 22 pesquisadores de diversas universidades e centros de pesquisa do mundo chegou à conclusão que as queimadas são responsáveis pela emissão de uma quantidade de dióxido de carbono (CO2) igual a 50% do que é liberado pela utilização de combustíveis fósseis. “Nós estimamos que o desmatamento através das queimadas está contribuindo com cerca de um quinto das emissões de gases do efeito estufa provocadas pelo homem, e essa porcentagem estaria se tornando maior a cada dia”, afirmou Thomas W. Swetnam, um dos co-autores do estudo "Fire in the Earth System," que foi publicado na Science no final de abril.
Quando a vegetação queima, libera todo o carbono que possui armazenado como resultado de seu processo de fotossíntese, contribuindo assim para o aquecimento global. No Brasil, principalmente na Amazônia, as queimadas são feitas por agricultores para preparar a terra, já que para cortar a vegetação e prepará-la sem queimar, seria preciso mais maquinário, tempo e dinheiro. “Está bastante claro que o fogo das queimadas é um dos principais catalisadores das mudanças climáticas”, disse Swetnam. “Nosso estudo é um chamado às armas para que os cientistas da Terra investiguem e meçam melhor o papel do fogo na biosfera”.
Os autores do relatório requisitaram que o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) reconheça a importância das queimadas para as mudanças climáticas e para que elas sejam incluídas de maneira mais apropriada nos futuros modelos e relatórios sobre a questão. “Estamos muito preocupados com o fato das queimadas não estarem adequadamente incorporadas nos modelos climáticos. É impressionante que uma parte tão integral do problema tenha sido deixada de lado por tanto tempo’, comentou o co-autor David Bowman. O artigo reuniu vários ramos de conhecimento sobre fogo e queimadas, áreas como ecologia, modelagem global, física, antropologia, história ambiental, medicina e climatologia contribuíram.
Rússia
O relatório ainda alerta para queimadas onde normalmente não se imagina esse problema. As florestas boreais, localizadas na Rússia, Canadá e norte da Europa também estão sofrendo com o fogo e liberando quantidades gigantescas de CO2. Segundo o estudo, somente as florestas russas contém mais de 50% do carbono armazenado em todo o hemisfério norte. E apenas a área das matas queimadas na Sibéria já seria maior que a do estado norte-americano da Virgínia. “As queimadas são atualmente menosprezadas, mas já é possível ver efeitos das mudanças climáticas de forma bastante clara por todos os lados”, revelou Swetman. “Conhecemos muito sobre o ciclo de carbono, o do nitrogênio, mas pouco sobre o ciclo do fogo e suas conseqüências no sistema terrestre”.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, 07/05/2009)