Os índios Guarani Kaiowá, de Mato Grosso do Sul, convivem há anos com uma estatística perversa: concentram a grande maioria dos suicídios registrados entre povos indígenas no Brasil. Em 2008, todos os 34 casos identificados no país ocorreram em tribos da etnia, de acordo com levantamento do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). O líder guarani kaiowá Anastácio Peralta disse que o fato “é bastante assustador” para a comunidade e atribui as mortes à perda de identidade dos indígenas diante dos conflitos fundiários e sociais que os guaranis enfrentam em Mato Grosso do Sul.
“A gente vê que é uma perda de identidade, de religião, enfraquecimento da cultura. A gente não foi preparado para enfrentar esses problemas todos de onde a gente vive”, afirmou. Por causa de conflitos fundiários, os guarani vivem hoje uma disputa por espaço com o agronegócio e muitos indígenas passam a trabalhar nas fazendas ou se deslocam para as cidades próximas, onde se concentram nas periferias.
“Um povo que é acostumado a viver em um espaço grande, onde não dependia dessa economia de fora, era muito tranquilo, feliz. Ali mantinha sua cultura, sua religião, sua dança, seus cantos e hoje não pode mais fazer isso”. O consumo de bebidas alcoólicas e de drogas, em alguns casos, potencializam os problemas e também contribuem para o alto número de suicídios na etnia, segundo Peralta.
Na avaliação do líder indígena, a ampliação das terras dos guarani kaiowá em Mato Grosso do Sul e o fortalecimento cultural das tribos podem reverter o alto índice de suicídios. “O povo guarani kaiowá é um povo alegre. Mas o que faz uma pessoas ser alegre é acreditar que a vida é boa”, afirmou.
(Por Luana Lourenço, Agência Brasil, 06/05/2009)