Ele exige que governo federal regularize invasão em floresta nacional. Se governo tentar retirar famílias, haverá 'derramamento de sangue', diz
O governador de Rondônia, Ivo Cassol, disse nesta quarta-feira (06/05), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que a usina de Jirau, no Rio Madeira, pode não sair do papel se o governo federal não aceitar fazer uma permuta de terras com o estado. Cassol quer que o governo federal regularize a presença de 5.000 famílias na Floresta Nacional Bom Futuro e, em troca, receba uma área de preservação ambiental estadual às margens do Rio Madeira. Caso o governo não aceite, a construção da usina hidrelétrica de Jirau estará comprometida, disse.
“Nós estamos permutando. O estado passa para União essa área e em compensação o governo regulariza as famílias [na floresta nacional]. Por um lado vamos produzir energia para vocês aqui em Brasília, no Sudeste e no Sul, e nós resolvemos o problema social de Rondônia”, explicou. Questionado sobre o futuro da usina caso o governo federal não aceite a proposta, o governador ameaçou: “Aí também não sai Jirau, porque aí o estado de Rondônia, a Assembléia Legislativa, os deputados, que nós dependemos deles para aprovar, são contra”.
Sangue
Segundo Cassol, se o Ministério do Meio Ambiente tentar retirar os invasores da Floresta Nacional Bom Futuro haverá “o maior derramamento de sangue já visto na face da Terra”. “Nós não queremos inviabilizar a obra, queremos que ela aconteça. Mas queremos resolver o problema social e evitar o derramamento de sangue.”
Segundo ele, se a União mantiver o propósito de proteger a floresta nacional e retirar os invasores, haverá um derramamento de sangue semelhante ao que aconteceu em Eldorado do Carajás, no Pará. “No oficio encaminhado para o presidente [Lula] eu alertei que nós assistimos o massacre de Eldorado do Carajás. E se o ministério do meio ambiente insistir em tirar as pessoas daquela área, vai ter o maior derramamento de sangue já visto na face da terra”, ameaçou Cassol.
Segundo o governador, a Floresta Nacional Bom Futuro não tem relação direta com a construção da usina e não tem impacto ambiental no projeto. Mesmo assim, ele considera necessária a regularização das famílias na área de preservação. “Se você tem uma área desmatada de 64 mil hectares de terra, por que transportar para outra área e começar tudo de novo? Nós temos uma área de preservação nas margens do Rio Madeira de 319 mil hectares de terra, enquanto a Flona do Bom Futuro tem 215 mil hectares. Nós queremos permutar”, insistiu.
O governador disse que o presidente Lula gostou da proposta de permuta. “O presidente gostou da ideia e disse que ia falar com o ministro [Carlos] Minc para colocar a proposta em prática. O ministro [Edison] Lobão também gostou da ideia. Não é justo autorizar a construção de uma usina para gerar energia para São Paulo e para Brasília e ao mesmo tempo não regularizar 5.000 famílias que moram lá”, disse. A assessoria do Palácio do Planalto informou que não se manifestaria sobre as ameaças do governador.
(Por Jeferson Ribeiro, G1, 06/05/2009)