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poluição em rios dragagem baía de guanabara
2009-05-07

Pneus poluiam os rios da Baixada Fluminense e foram retirados durante obras de saneamento do programa

Em sete meses, operários que trabalham nas obras de saneamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na Baixada Fluminense recolheram 4,5 mil pneus que poluíam rios da região, segundo a Secretaria Estadual do Ambiente. Na tarde de segunda-feira (04/05), quando o Estado de S. Paulo visitou um dos canteiros de obras, 52 pneus - e muito lixo - foram retirados do Rio Sarapuí, em Belford Roxo, um dos sete municípios atendidos pelo Projeto de Controle de Inundações e Recuperação Ambiental. Os pneus, que eventualmente chegariam à Baía de Guanabara, agora seguem para reciclagem. Desde o início das obras, dragas e escavadeiras içaram cerca de 500 mil toneladas de lixo misturado com sedimentos. Sessenta quilômetros de três rios - Botas, Iguaçu e Sarapuí - estão sendo dragados.

Além do desassoreamento, o projeto prevê a reforma de pontes, a construção de praças, o plantio de vegetação ciliar e a pavimentação de vias e ciclovias nas margens, onde hoje há muita gente morando em barracos. O orçamento é de R$ 190 milhões. Outros R$ 75 milhões serão aplicados na construção de 2 mil unidades habitacionais nos municípios. Dez mil pessoas que vivem em ocupações irregulares nas margens dos rios serão removidas, afirma a secretária do Ambiente, Marilene Ramos. Ela reconhece que essa parte do projeto está atrasada, mas diz que o cronograma será mantido, com previsão de conclusão das obras até outubro de 2010. Marilene conta que ficou surpresa com a quantidade de pneus encontrados nos rios.

Ao longo do Rio Sarapuí, 13 máquinas trabalhavam na segunda-feira, algumas sobre flutuantes. Além de pneus e sofás, os operários do PAC enfrentam outros obstáculos. O rio separa a Favela do Dique do Bairro Bom Pastor, em Belford Roxo. Um dos pontos de dragagem fotografados pela reportagem fica na frente de uma boca de fumo. Operários estavam apreensivos, porque no último sábado teve tiroteio durante uma incursão da Polícia Militar. Na ocasião, as obras foram paralisadas por quase duas horas naquele trecho. O engenheiro Irinaldo Cabral, coordenador das obras do PAC na região, diz que a equipe "toma certos cuidados", mas afirma que não há negociação com traficantes. "Não temos interlocutores diretos. O que a gente faz é divulgação: avisamos à população sobre a obra e eles (os traficantes) ficam sabendo."

Além do tráfico de drogas e de eventuais tiroteios, operários relataram o caso de um corpo que foi encontrado no Rio Iguaçu. O engenheiro confirmou. Marilene diz que procura não mobilizar força policial porque isso "dificultaria a convivência na obra, já que o acompanhamento policial não pode ser permanente". "Mas usaremos, se for necessário."  A secretária estima que cerca de 3 milhões de habitantes serão beneficiados pelas obras. Até agora, apenas 16% do previsto foi executado. Segundo Marilene, a última grande obra de dragagem na região terminou em 1995.

A região é muito pobre. A desempregada Odaléia Lima Meireles, de 51, vive na margem do Rio Sarapuí com a filha, Simone, de 25, quatro crianças e o marido. Na frente do barraco há uma vala aberta com esgoto. Ela afirma que nunca recebeu nada do governo. "A única coisa que eu tenho é a cesta básica dos meninos da boca (de fumo). Queria uma casa para sair daqui." Sobre a obra, ela conta que "na última chuva não encheu, graças a Deus". "Aqui ficava tudo dentro d'água."

Para o engenheiro, novas ocupações nas margens do Rio Sarapuí serão evitadas com a estrada de 12,5 km que vai ligar a Via Dutra com a Rodovia Washington Luiz. Ele diz que projetos de educação ambiental como a distribuição de cartilhas por meio de associações de moradores, igrejas e times de futebol receberão R$ 1 milhão do orçamento. "A população sofre com as enchentes, mas não tem consciência de que existe uma relação direta com o lixo jogado no rio", avalia. Cabral reconhece que a captação de esgoto não estava prevista, mas afirma que o contrato do PAC será alterado para incluí-la. "Não faz sentido falar em recuperação ambiental se o rio continuar recebendo esgoto."

(Por Felipe Werneck, O Estado de S. Paulo, 06/05/2009)


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