As chuvas que castigam o Norte e o Nordeste do País já deixaram 483.522 pessoas desalojadas (incluindo as desabrigadas, que perderam suas casas) em seis Estados e 18 mortos - casos registrados no Ceará (7), no Maranhão (7) e na Bahia (4). Ao todo, nesses três Estados e no Piauí, Pará e Amazonas, 266 municípios foram mais gravemente atingidos. Boa parte deles já decretou estado de emergência. Há centenas de quilômetros de estradas federais e estaduais danificadas. No Maranhão, na BR-316, principal ligação com o Norte, o Exército improvisa balsas para que os veículos possam passar sobre as águas, porque uma das pontes foi levada pela enxurrada.
Em Salvador, entre a madrugada e a tarde de ontem, choveu cerca de 15% do que era esperado para todo o mês. Três pessoas morreram, quatro ficaram feridas e duas estão desaparecidas. Houve ainda 333 ocorrências, entre elas 202 deslizamentos de terra, 19 desabamentos de imóveis e 18 quedas de árvores, registrados pela Coordenadoria da Defesa Civil de Salvador. Até as 15 horas, choveu, de acordo com o órgão, 60 mm. As mortes ocorreram no bairro periférico de Pirajá. Três imóveis foram destruídos por um deslizamento de terra. As vítimas, três jovens de 18 a 21 anos, estavam em uma das casas. Dois corpos foram encontrados, mas o terceiro ainda não havia sido localizado. Além deles, uma mulher e sua filha de 6 anos estão desaparecidas. Elas caíram em um buraco num beco alagado e foram levadas pela correnteza até um canal.
Houve ontem caos no trânsito e no aeroporto da cidade. Pela manhã, as principais avenidas registraram pontos de alagamento. Os casos mais graves ocorreram nas imediações de canais, córregos e lagos. O Dique do Tororó, cartão-postal da cidade, transbordou, fechando as vias de acesso. Nos congestionamentos, assaltantes fizeram arrastões. Foram registradas sete ocorrências, três delas na Avenida Paralela, a mais movimentada da cidade, que liga a rodoviária ao aeroporto, perto da maior favela da região, localizada no Bairro da Paz. O aeroporto chegou a ser fechado durante a manhã e passou a maior parte de dia operando com restrições. No Shopping Iguatemi, um pedaço do forro de gesso do teto do terceiro piso não resistiu a uma infiltração e se rompeu, caindo. Ninguém ficou ferido.
O governador baiano, Jaques Wagner, sobrevoou a região metropolitana de Salvador, à tarde, e convocou uma reunião de emergência, no início da noite, com os prefeitos de Salvador e de duas cidades da região metropolitana, Lauro de Freitas e Simões Filho. Passados 13 dias desde que o prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro (PMDB), decretou situação de emergência, o governo baiano só homologou o decreto ontem à noite - valendo também para as outras duas cidades. Isso garante às prefeituras mais facilidade na obtenção de verbas emergenciais, do governo do Estado e da União, e a dispensa de licitações para a contratação de serviços e obras de combate aos efeitos das chuvas.
Energia e estradas
No Maranhão, onde sete pessoas já morreram por causa das chuvas, 52 municípios foram atingidos pelas enchentes. A cidade mais afetada é Trizela do Vale, no centro do Estado, onde 14 mil pessoas sofrem as consequências das cheias do Rio Mearim. Há 8 mil desabrigados ali. Pelo menos 8,5 mil casas foram destruídas no Estado e 794 km de rodovias federais e estaduais estão danificadas. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, 180 torres de transmissão de energia caíram ou tiveram de ser desligadas n o Estado, o que deixou algumas cidades com sérios problemas, principalmente as cortadas pelos Rios Itapicuru e Mearim. Em Pedreiras e Coroatá, no sudeste, o Poder Judiciário suspendeu todas as audiências, por falta de condições.
A situação também é de calamidade no Ceará, onde sete pessoas morreram e 59 municípios, de um total de 184, foram atingidos pelas cheias. De anteontem para ontem, choveu em 134 municípios. A região norte é a mais atingida. Em Sobral, um museu ficou submerso por causa da cheia do Rio Acaraú. Em Santana do Acaraú, as aulas foram suspensas e até o prédio da Defesa Civil ficou alagado. A pior chuva foi em Pentecoste, com 183 mm. A cidade ficou ilhada. As duas pontes de acesso ao município ficaram submersas. Em Granja, as águas do Rio Coreaú invadiram a Câmara, o Fórum e a prefeitura.
(Por Tiago Décimo, João Domingos e Carmen Pompeu, O Estado de S. Paulo, 06/05/2009)