As leis são claras: a fumigação, em terra, só é permitida a uma distância de 500 metros de casas; já as aéreas têm que manter uma distância de 1.500 metros. Mas mesmo assim, a fumigação com o uso de agrotóxicos tem representando um problema constante em muitas cidades da Argentina. Seus efeitos para a saúde e meio ambiente são expressivos. É o que mostra um estudo completo do Grupo Reflexão Rural, dentro da Campanha Parem de Fumigar, que será apresentando no próximo dia 7, no Centro Cultural Guapachoza, bairro de Abasto, Buenos Aires.
O relatório "Povos Fumigados" faz um panorama das localidades mais afetadas pelas fumigações, levantando desde questões sociais, ambientais e focando, sobretudo, nas péssimas condições de saúde geradas pelos efeitos de substâncias nocivas empregadas num predador cultivo de soja - a maioria transgênica.
Em sua apresentação, Jorge E Rulli, coordenador da campanha, afirma que atualmente o país possui mais de 18 milhões de hectares semeados com soja transgênica, o que consome uma média entre 180 e 200 milhões de litros de glifosato por ano. De acordo com o estudo, a expansão do munocultivo de soja aconteceu de forma inapropriada e não levou em consideração aspectos fundamentais para a qualidade de vida das pessoas e das terras que foram manuseadas. Só para se ter ideia, a transnacional Monsanto - sem o devido controle - aumentou o uso do glifosato de 28 milhões de litros (de 1996/1997) para mais de 180 milhões, segundo os dados mais atuais.
"A agricultura industrial da soja é sinônimo de desmontes, gravíssima deterioração dos solos, contaminação generalizada e, em particular, das fontes e reservatórios hídricos, degradação do meio e dos agroecossistemas, destruição da biodiversidade e expulsão massiva de populações rurais", afirma Rulli.
Bastante extenso, o trabalho desenvolvido pela equipe da Campanha traz entrevistas com profissionais especializados na área da saúde, na área jurídica, além de depoimentos de pessoas e comunidades que sentem diretamente o efeito das fumigações. O relatório descreve o aumento de enfermidades cancerígenas, além de má formação congênitas, lúpus, problemas renais e respiratórios, entre outros, que podem estar relacionados à expansão do cultivo de soja e suas consequências.
Na localidade de San Marcos, por exemplo, é notório o incremento de casos de cânceres que levaram moradores a óbito. Entre 2002 e 2007, das 232 mortes ocorridas, 28 foram decorrentes de causas cancerígenas. "De um total de 232 falecidos correspondem 49 produzidos por câncer, acidente, morte ao nascer e de causa duvidosa. O resultado é que 16% de decessos produzidos no período citado poderia corresponder, segundo as hipóteses, à mudança social mencionada".
O trabalho pode ser conhecido em na página www.grr.org.ar
(Adital, 05/05/2009)