Segundo estudo que analisa produção de soja e mamona em Mato Grosso, Rondônia, Bahia, Goiás e Distrito Federal, o setor de produção do biodiesel causa impactos sociais e ambientais, além de promover o caos fundiário e afetar terras indígenas
O discurso de que a produção do biodiesel pode melhorar as condições de vida dos agricultores familiares não está sendo comprovado na prática. É o que mostra a quarta edição do relatório "O Brasil dos Agrocombustíveis - impactos das lavouras sobre terra, meio e sociedade", lançada na semana passada pela organização Repórter Brasil.
Com o objetivo de monitorar ano a ano os efeitos causados pelas culturas utilizadas na produção de agroenergia, dos pontos de vista social, ambiental, fundiário e trabalhista, o estudo analisa os impactos da produção de soja e de mamona nos estados da Bahia, Goiás, Mato Grosso e Rondônia, além do Distrito Federal. Segundo o relatório, 80% do biodiesel produzido no Brasil vem do óleo de soja. A participação dos pequenos na cadeia de biodiesel da soja tem se limitado à venda de grãos às usinas.
Impactos Sociais
O estudo revela ainda que milhares de trabalhadores continuam submetidos a condições degradantes de trabalho em todos os cantos do país. "Na verdade, muitas vezes o empregado explorado, por vezes até reduzido à condição análoga à de escravo, torna-se funcional aos modelos mais tecnológicos de produção, ao reduzir os custos referentes ao trabalho em um empreendimento agrícola". De acordo com o estudo, casos desse tipo costumam ser encontrados nas áreas de expansão da agropecuária da Amazônia e do Cerrado. "Nessa condição, se não houver algum tipo de repressão e punição a esse empregador que explora, ele obtém vantagens competitivas no mercado".
Caos Fundiário
O estudo também mostra que o setor agrícola, especialmente o de biocombustíveis, exerce uma influência fundamental na questão fundiária brasileira. "Na Amazônia, a força da soja nesse processo é de grande monta", conforme explica o professor Ricardo Silva, do Departamento de Geografia e pró-reitor de Cultura, Extensão e Assuntos Estudantis da Universidade Federal de Rondônia (Unir). "Não bastasse tal envergadura de influência, a soja, ao ocupar áreas anteriormente destinadas à pecuária, empurra o gado para outras regiões de Rondônia, com variadas consequências", explica.
Povos indígenas
À medida que a produção da soja cresce no Brasil, aumenta também a pressão do agronegócio sobre as terras indígenas, diz o estudo. "O lobby político e judicial estabelecido pelo setor ruralista a favor de seus interesses, via de regra, representa uma ameaça indireta aos indígenas. Em alguns casos, ele se manifesta como uma violenta campanha declarada contra os direitos desses povos tradicionais".
(Por Thais Iervolino, Amazonia.org.br, 05/05/2009)