Primeiro-ministro australiano afirma que o comércio de emissões vai entrar em vigor um ano depois do esperado, mas que em vez de um corte tímido de 5% a 15%, a meta será de 25%
A Austrália, maior exportador de carvão do mundo e com uma das maiores emissões de dióxido de carbono (CO2) per capita no planeta, mandou para a comunidade internacional um sinal ambíguo de engajamento no combate às mudanças climáticas nesta segunda-feira (04/05). O governo anunciou que fará uma dura redução de 25% nas emissões em 2020, porém também divulgou o adiamento do prometido mercado de carbono nacional, que agora só entrará em vigor em julho de 2011, um ano depois do planejado. “Foi realmente uma mensagem muito confusa. O atraso no esquema de comércio de emissões sugere uma queda na importância que o país dá para a mitigação das mudanças climáticas”, afirma o especialista em políticas climáticas e desenvolvimento, Mathew Clarke. “Porém, o aumento significativo na meta de redução de emissões demonstra um forte comprometimento para diminuir as emissões australianas”.
Os membros do partido verde, cujo apoio será indispensável para a aprovação de leis de comércio de emissões no Senado, declararam que mesmo 25% de redução não seria bom o suficiente. “O governo colocou tantas condições para essa meta que ninguém pode acreditar que seja possível alcançá-la”, atacou a senadora Christine Milne. Os ambientalistas, contudo, não se mostraram tão preocupados com o adiamento da implementação do mercado de carbono australiano. “Dado o estágio das negociações mundiais, que parecem deixar claro que novas políticas e acordos não entraram em vigor antes de 2013, o atraso de um ano na Austrália não é tão significativo”, disse a líder da Iniciativa Climática Global da WWF, Kim Carstensen.
Indústrias comemoram
O Grupo Australiano de Indústrias (Australian Industry Group) divulgou nota em que diz que o adiamento é bem vindo em virtude da crise econômica mundial. Dessa forma, alegam, toda a indústria do país poderá ter um tempo um pouco maior para se adaptar. “Poderemos fazer melhores arranjos para os impactos de um esquema de permissões. Também teremos mais tempo para negociar como as permissões serão comercializadas e de que maneira será feita a atuação do Fundo de Ação para Mudanças Climáticas (Climate Change Action Fund), afirmou o chefe executivo do Grupo Australiano de Indústrias, Heather Ridout. Ainda segundo Ridout, as medidas anunciadas nesta semana refletem que o governo está sensível aos problemas econômicos. “Há um claro comprometimento em não prejudicar a competitividade da nossa indústria e isso é fundamental para que possamos apoiar um mercado de carbono”, declarou.
A presidente da Federação das Indústrias de Cimento, Robin Bain, também afirmou que o adiamento é benéfico para o setor, que está entre os que vão receber mais permissões grátis do governo. “As permissões que nos serão oferecidas cobrem cerca de 83% da produção, o restante teríamos que comprar. Seria um custo que apenas a indústria de cimento australiana pagaria no mundo. Devemos rever isso ou ao menos fazer cálculos concretos do impacto desse custo na nossa produção até a data de implantação do mercado”, afirmou Bain.
Mundo
O governo Obama, que também pretende adotar um esquema de comércio de emissões, está acompanhando de perto o desenrolar do projeto australiano, que poderá lhe servir de modelo. Para o presidente da WWF-Australia, Greg Bourne, o adiamento foi ruim, mas pelo menos o aumento da meta para 25% deve influenciar positivamente os EUA. “Um objetivo ambicioso como esse pode ajudar Obama a convencer a oposição americana a ceder um pouco mais”. Outro fator que pesa em favor da Austrália, é que 25% é exatamente o que China, Índia e outras grandes nações em desenvolvimento exigiram nos cortes das emissões dos países ricos para que dêem apoio a um possível acordo pós-Quioto.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, 05/05/2009)