Os navios emitem um volume de poluentes particulados equivalente à metade da poluição emitida pela frota de veículos de todo o mundo. A conclusão é de estudo inédito feito por cientistas da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos. O estudo é o primeiro a calcular a poluição emitida pela frota marítima em termos globais a partir de medições diretas das emissões de particulados em navios em operação real. Os autores estimam que os navios emitem cerca de 1.100 toneladas de poluição particulada globalmente a cada ano. "Como mais de 70% do tráfego marítimo ocorre dentro da linha costeira de 250 milhas, esta é uma fonte significativa de preocupação em relação à saúde das populações costeiras," afirma Daniel Lack, que participou do estudo.
Impactos opostos sobre o clima
Os navios comerciais emitem poluição tanto na forma de particulados quanto na forma do mais conhecido dióxido de carbono. Contudo, segundo os pesquisadores, esses dois tipos de poluição têm impactos opostos sobre o clima. As partículas têm um efeito global de resfriamento que é quase cinco vezes maior do que o efeito global de aquecimento causado pela emissão de CO2 dos próprios navios. O CO2 emitido pelos navios representa cerca de 3% de todo o CO2 emitido no mundo pelas atividades humanas. A frota marítima mundial emite ainda quase 30% dos óxidos de nitrogênio de origem antropogênica.
Química da poluição
A pesquisa, que incluiu o monitoramento das emissões de mais de 200 navios, incluindo cargueiros, petroleiros e navios de passageiros, analisou a química das partículas e dos gases emitidos por eles. Os navios emitem sulfatos, as mesmas partículas associadas com os motores diesel que equipam carros e caminhões. Essas emissões variam em relação direta com o conteúdo de enxofre contido no combustível utilizado.
Enxofre no combustível
Internacionalmente, o conteúdo de enxofre no combustível é regulado pela Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios. Como resultado dessa convenção, alguns navios usam combustíveis mais limpos, com baixos níveis de enxofre. Contudo, muitos deles continuam usando combustíveis com altos teores de enxofre. As emissões de particulados não-sulfatados dependem da velocidade de operação do motor e da quantidade de óleo lubrificante necessário para cada tipo de motor. Essa quantidade de lubrificante está diretamente ligada à qualidade do combustível utilizado - quanto pior o combustível, mais óleo é queimado e mais poluição é emitida.
Contudo, mesmo o uso do chamado "combustível limpo", com menor teor de enxofre, tem resultados contraditórios. Em um achado surpreendente, os cientistas descobriram que, apesar de resultar em menor emissão de particulados, o uso do combustível com menor teor de enxofre resulta em partículas que ficam mais tempo em suspensão no ar. É justamente enquanto estão no ar que essas partículas afetam a saúde humana.
(Inovação tecnológica, 04/05/2009)