Disputas entre guaranis-caiuás resultaram em 42 assassinatos, além de 34 casos de suicídio. Povo teve maior índice de violência em 2008
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) divulga nesta quarta (06/05) em Brasília o relatório anual sobre violências contra povos indígenas. Dados parciais revelados ontem apontam que, assim como no ano anterior, as maiores vítimas da violência em 2008 foram os índios guaranis-caiuás, em Mato Grosso do Sul. Do total de 60 assassinatos registrados no País, 42 ocorreram no meio daquele povo. Também aconteceram ali todos os 34 casos de suicídios assinalados no Brasil. No conjunto, seriam 76 mortes violentas entre os guaranis-caiuás. O relatório do Cimi, vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), aponta, além de mortes violentas, casos de conflitos territoriais, ameaças ambientais em terras indígenas, perseguições e falhas na ação do poder público. Neste capítulo, o principal destaque é a omissão na área de assistência à saúde.
O Cimi relacionou 68 mortes decorrentes da falta de assistência. Mais da metade delas (37) era de casos de menores de 5 anos. Em todos os Estados, segundo o relatório, os índios reclamam de falta de médicos nas aldeias e nos postos de saúde, falta de medicamentos e transporte para doentes. Embora alto, o número de assassinatos no País diminuiu consideravelmente em relação a 2007, quando foram registrados 92 casos. Mesmo na área dos guaranis-caiuás, o número diminuiu, passando de 53 para 42. Os suicídios, porém, aumentaram de 28 para 34.
A quase totalidade dos assassinatos em Mato Grosso do Sul resultou de brigas e disputas violentas entre os próprios índios. Para os técnicos que apresentam o levantamento, os assassinatos e os suicídios estão relacionados a um quadro de autodestruição, em decorrência das condições precárias em que vivem os guaranis-caiuás. Além de confinados em pequenas faixas de terra, seriam vítimas de desnutrição e falta de assistência à saúde. Empobrecidos, estariam também se sujeitando a trabalhos em condições cada vez mais precárias. Segundo o relatório, há também casos de trabalho escravo.
(Por Roldão Arruda, O Estado de S. Paulo, 05/05/2009)