O anúncio feito em abril pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) de ampliar o programa de monitoramento via satélite da cobertura florestal, que hoje é feito só na Amazônia, para incluir também a Caatinga, o Cerrado, a Mata Atlântica, o Pampa e o Pantanal, foi bem recebido por grande parte da sociedade - preocupada com os altos índices de desmatamento. Porém, antes mesmo de ser iniciada, a ampliação já sofreu um revés. Neste mesmo mês, o governo federal diminuiu em 20% a verba para a construção de novos satélites, instrumentos primordiais para acompanhar as tendências de devastação. Como resultado do corte de gastos, o início do acompanhamento e divulgação anual dos índices de desmatamento de todos os biomas pode atrasar ter atrasos.
A continuidade do monitoramento da devastação de florestas na região e também em outros biomas depende do lançamento, até 2014, de outros dois satélites - CBERS 3 e 4. A construção desses satélites já está acertada com a China desde 2002. Contudo, dos R$ 203 milhões previstos na Proposta de Lei Orçamentária para o programa espacial do Inpe, R$ 15 milhões foram ceifados. Além disso, R$ 25 milhões foram retirados do satélite Amazônia 1, um novo equipamento previsto para ser lançado em 2011 que diminuiria o tempo de monitoramento na floresta. Segundo informou o Inpe, ainda não é possível afirmar que haverá atraso, mas o risco passou a existir. O problema em retirar verbas do CBERS não é apenas causar uma possível quebra no monitoramento da Amazônia, mas também atrasar o início do monitoramento de outros biomas prometido pelo MMA.
João de Deus Medeiros, secretário em exercício da Secretaria de Biodiversidade de Florestas do MMA discorda disso. Segundo ele, a complementação do monitoramento já teve início e parte do Cerrado já está sendo processada pelos satélites. Medeiros diz que a implementação do projeto será gradativa e que os satélites existentes dão conta da tarefa. Sobre como o corte de verbas pode afetar o bom funcionamento do projeto, ele afirma: "pode ter alguma influência indireta no sentido em que, se você tem imagens disponibilizadas gratuitamente, imagens de qualidade, obviamente que elas facilitam a implementação desse programa", conta. Segundo ele, essas alterações orçamentárias não comprometem diretamente o planejamento desse programa.
Monitoramento
Os satélites contribuem para o planejamento de ações que o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Polícia Federal realizam no combate ao desmatamento ilegal. Graças aos Satélites Sino-Brasileiros de Recursos Naturais (CBERS), construídos em parceria com a China, o Brasil é o país com maior competência para o monitoramento do desmatamento de florestas tropicais. Desde 1997, três equipamentos já foram colocados em órbita (CBERS 1, 2 e 2B), provendo tanto imagens de alta como de baixa definição. Foi o CBERS 2B, que permitiu ao Inpe criar o Programa de Detecção de Desmatamento em Tempo Real, conhecido como Deter, que divulga mensalmente o estado de devastação da Amazônia.
Projeto
A iniciativa pretende realizar no restante dos biomas brasileiros o mesmo tipo de monitoramento que já existe na Amazônia, objetivando orientar políticas públicas e tomadas de decisão para combate ao desmatamento e para conservação da biodiversidade, e calcular o volume de gases de efeito estufa decorrente do desmatamento e alteração do uso do solo no país. Esse monitoramento será feito inicialmente a partir de mapas de áreas florestais remanescentes nos biomas extra-amazônicos produzidos pelo Projeto de Utilização e Conservação da Diversidade Biológica Brasileira (Probio) com base em imagens captadas pelo satélite Landsat em 2002.
O Programa de Monitoramento é de responsabilidade da Secretaria de Biodiversidade e Floresta do MMA e tem financiamento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e da Agência Brasileira de Cooperação e execução técnica do Centro de Monitoramento Ambiental do Ibama. Os primeiros resultados do monitoramento serão sobre o desmatamento do Cerrado no período entre 2002/2008 e deverão estar disponíveis em setembro.
(Por Filippo Cecilio, Amazonia.org.br, 04/05/2009)