Os moradores querem uma definição rápida do que ocorrerá com os lotes em que moram, diz Angela Maria da Silva, presidente da Amovila (Associação dos Moradores da Vila do Saí). Sem a regularização do bairro e uma definição de que casas podem ficar e as que serão removidas, afirma, novas invasões estão acontecendo. Caso típico da ocupação de encostas de São Sebastião, a Vila do Saí tem hoje cerca de mil casas, diz ela, que estima em no máximo 45 o número de casas que devem ser removidas. Há dez anos, reportagem da Folha mostrava que havia cerca de 200 barracos em um núcleo ainda incipiente. A então viela com um único orelhão e ruas que mais pareciam trilhas morro acima mudou e se tornou um bairro quase organizado, ao menos para os padrões do pé do morro do litoral norte.
Fixada no local, diz Angela, boa parte dos moradores não pretende sair de lá. Eles preferem obter o título do terreno e construir e reformar suas casas a enfrentar uma mudança. Na gestão do prefeito Juan Pons Garcia (PPS), o bairro foi incluído nos decretos que criaram as Zeis (Zonas Especiais de Interesse Social), medida que transforma um terreno como prioritário para o assentamento de famílias e a entrega de títulos que garantam a permanência delas lá.Esses decretos "congelaram" -impediriam a construção de mais barracos- nos bairros e seriam um caminho para regulamentar o local, mas o programa não foi à frente. O prefeito não se reelegeu. "Não estamos entendendo muito bem como as coisas vão andando. Temos uma certa preocupação com a mudança da prefeitura", diz.
A desconfiança ocorre porque, segundo ela, os moradores já contavam com uma solução definitiva para o impasse sobre a propriedade, ainda que precária, dos terrenos em que construíram suas casas. "Tem gente que fala em quebrar a rodovia [Rio-Santos, que separa a vila da Barra do Saí], fazer loucura, encher ônibus [para protestar na prefeitura]. A sociedade de amigos está sofrendo com isso", diz ela. Outra tendência, segundo a líder comunitária, é a volta do desrespeito ao congelamento. ""Tem gente chegando. Tem casas irregulares sendo feitas."
(Folha de S. Paulo, 04/05/2009)