A velocidade com que a febre amarela avançou pelo Estado assusta os gaúchos, intriga especialistas e desperta atenção de técnicos do governo federal. Na próxima semana, provavelmente no dia 11, uma equipe do Ministério da Saúde e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) desembarca em Porto Alegre com a missão de tentar esclarecer por que a doença se alastrou tão rapidamente e atingiu 290 municípios. Em outubro, os primeiros casos começaram a ser detectados na Fronteira Oeste.
Naquele momento, acreditava-se estar ocorrendo um novo surto da doença, igual ao de 2001, mas que ficou restrito à região do Rio Uruguai. Havia a convicção de que o novo impulso da febre pelos pampas não seria difícil de controlar. As medidas que sucederam a notícia foram as mesmas de sete anos atrás. A Secretaria da Saúde reforçou a vacinação nos moradores e nos municípios atingidos. A estratégia não segurou o vírus.
– Mesmo com as vacinas, percebemos que o contágio tomou o rumo Leste. Pouco a pouco, começaram a aparecer bugios mortos em outras regiões, nos deixando preocupados – admite o secretário da Saúde, Osmar Terra.
O susto maior, porém, só veio em dezembro. Com a intensificação dos trabalhos para controlar a epidemia, os técnicos que faziam incursões pela mata ciliar, em busca de macacos mortos, perceberam que havia uma quantidade assustadora dos mosquitos transmissores do vírus.
– Todos voltavam dizendo que havia muito mais insetos do que em 2001. Quando fui pessoalmente às regiões, confirmei. Minha pele ficava cheia de mosquitos. Nessa hora, ficou mais do que claro que a missão era bem mais difícil e complexa do que em 2001 – lembra o secretário.
A rotina de quem trabalha contra a doença se tornou cansativa e estressante. O primeiro desafio que se impôs foi o de decidir todos os dias onde seriam distribuídas as vacinas. Se por um lado era a garantia da imunização de cidades inteiras, por outro, deixava regiões vulneráveis e candidatas a novas vítimas do mosquito. A cada decisão vinha junto a pressão de prefeitos e secretários municipais de saúde. Todos queriam garantir a segurança de sua área de influência. O problema é que contra a febre amarela as doses apresentam riscos de reações adversas, como febres e dores pelo corpo, e até mesmo morte, como foi comprovado em dois casos.
Em mais de 80 pacientes teriam sido percebidos efeitos adversos, o que também chamou atenção do governo federal em Brasília. Para estudar esses casos, o Ministério da Saúde enviará uma outra equipe ao Estado, que deve chegar na sexta-feira. Eles tentarão entender por que o número de rejeição foi tão alto.
– Qual era o maior risco, o vírus ou os eventos adversos da vacina? É uma escolha muito difícil e que muita gente não entendia – desabafa Francisco Paz, coordenador do Centro Estadual de Vigilância em Saúde.
(Por Daniel Cardoso, Zero Hora, 03/05/2009)