Durante anos, os cientistas analisaram como a abundância de espécies influencia a sua chance de sobrevivência. Embora seja óbvio que os baixos números ameaçam a sobrevivência, simplesmente porque reduz as possibilidades reprodutivas, também deve ser considerado que a raridade de uma espécie também as torna mais valiosas. É o chamado efeito antropogênico Allee, pelo qual quanto menor o número de indivíduos de uma espécie, mais provável é a sua extinção pela ação humana direta. A maneira mais óbvia é que a raridade, ao aumentar o ‘valor’, também aumenta o seu interesse para colecionadores, para troféus e produtos. Quanto mais rara uma espécie mais visada será pela caça ilegal.
Os tigres foram e continuam sendo caçados exatamente por isto. No Brasil, efeito semelhante também ocorreu com a arara azul, muito valorizada por ‘colecionadores’ internacionais. A raridade ou a ameaça de extinção são importantes fatores de incentivo ao tráfico internacional de animais. Sobre o efeito antropogênico Allee sugerimos que leiam o artigo “Rarity Value and Species Extinction: The Anthropogenic Allee Effect”, publicado pela PLos Biology. Para acessar o artigo clique aqui.
Um novo estudo [Rare Species Are Valued Big Time], publicado na PLos ONE, indica que esta valorização das espécies raras também tem efeitos na orientação de políticas de conservação. O interesse das pessoas justifica os gastos públicos em espécies raras, com implicações negativas na conservação de espécies mais comuns. Os pesquisadores, da Université Paris Sud, avaliaram o comportamento das pessoas utilizando um sítio web com um slideshow apresetando imagens de espécies raras e comuns. O slideshow foi programado para ‘congelar’ perto de seu final.
Eles mediram o tempo que as pessoas estavam dispostas a esperar para assistir ao slideshow. Eles identificaram que mais pessoas optavam pelas espécies raras e que elas esperavam mais tempo pela ativação do slideshow antes de desistir. A preferência na opção e a maior espera são claros indicativos de interesse.
O estudo demonstra que esta atitude também guia as ações de conservação, o que pode estar prejudicando as espécies mais comuns, mas, potencialmente, também ameaçadas. Isto é um alerta para que os conservacionistas sejam mais cuidadosos ao usar espécies raras como fator motivacional para a promoção da conservação. O estudo “Rare Species Are Valued Big Time” está disponível para acesso integral no formato HTML. Para acessar o artigo clique aqui.
(Henrique Cortez Weblog, 29/04/2009)