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sustentabilidade e capitalismo adaptação à mudança climática
2009-04-30

Seis em cada 10 especialistas em sustentabilidade acreditam que o conceito tem influenciado de modo crescente as decisões de mercado em seus países. Essa é uma das conclusões extraídas da Survey of Sustainability Experts, recente pesquisa feita pelo Instituto GlobeScan com 353 especialistas de países dos cinco continentes que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A experiência dos participantes no mercado de sustentabilidade (76% trabalham há mais de 10 anos com o tema), assim como a diversidade setorial dos participantes – empresas, governos, ONGs, acadêmicos e consultores – conferem ao estudo clara consistência e a possibilidade de comparar pontos de vista diferentes. Entre os respondentes, os executivos (67%) são os que mais consideram a sustentabilidade como uma ideia cada vez mais importante na hora de fazer transações comerciais, seguidos por consultores (57%) e acadêmicos (56%). Governos e ONGs (48%) se mostram bem mais reticentes. Regionalmente, a Ásia é o continente onde mais se acredita na capacidade de influência do conceito sobre o mercado, talvez pelo fato de que no último ano China e Índia têm demonstrado maior interesse discuti-lo em suas estratégias, especialmente as relacionadas a mudanças climáticas. Europa (59%) e América do Norte (55%) vêm na sequência.

Como era de se esperar a crise mundial não ficou de fora do estudo.  Quando perguntados, por exemplo, se e como a desaceleração econômica impactará os avanços na sustentabilidade, uma maioria de 67% espera repercussões negativas (53% prevêem reflexos parcialmente negativos e 14%, muito negativos.) Os governos estão entre os mais pessimistas. Para 26% dos respondentes, o quadro tende a piorar porque as empresas (26empresas, deixando menos espaço para iniciativas voltadas para o meio ambiente;  do governo estconcentrarão investimentos na recuperação financeira em detrimento das iniciativas socioambientais. Cerca de 17% acreditam que o dinheiro aplicado em pesquisa e desenvolvimento de energias e modelos de negócio vai sumir da praça. Entre os que apostam na expansão do conceito após a crise, 34% afirmam que isso será possível porque a onda de consumo começará a diminuir, reduzindo assim a pressão sobre os bens naturais. Há um consenso de que a recessão induz à mudança na medida em que reduz o crescimento (30%), promove a revisão de modelos mentais (27%)  e estimula inovações tecnológicas voltadas para a ecoeficiência.

O aquecimento global também ganhou capítulo especial na pesquisa. E nem poderia ser diferente. Dos considerados “grandes problemas ambientais”, que podem impactar a economia,  a questão das mudanças climáticas é apontada por 71% dos entrevistados e a escassez de água por 69%.

Entre as abordagens mais eficazes para controlar as temidas mudanças climáticas, a grande maioria (79%) indicou, como primeira alternativa, a criação de taxas sobre as emissões de carbono. Houve consenso entre os especialistas de diferentes setores. Governos e acadêmicos se mostraram os mais convictos. Concessão de incentivos fiscais (56%), financiamento governamental para pesquisa em tecnologias verdes (52%) e comércio nacional e internacional de carbono (52%) também foram apontados como possíveis soluções. Quase sempre discordantes em muitos pontos de vista, especialistas de governos e universidades estão entre os que mais concordam sobre o potencial do investimento público em desenvolvimento de tecnologias limpas. Os de ONGs, por sua vez, incluem-se entre os mais céticos quanto a eficácia do comércio de emissões.

Os aparelhos econômicos (27%), as ciências e novas tecnologias (25%) foram apontados pelos especialistas como as abordagens mais eficientes para as mudanças climáticas. Aumento de regulamentação (19%), educação pública e persuasão (11%), e melhoria nas relações diplomáticas (7%) vieram em seguida.

Para saber que tecnologias específicas os especialistas consideram as mais eficientes no combate às mudanças climáticas, o GlobeScan apontou oito. Pela ordem de importância, as três mais referendadas foram a melhoria na eficiência energética (88%), o incentivo à conservação de energia (79%), fontes de energia renováveis (74%) foram as três abordagens mais apontadas pelos especialistas. No pé da lista com 18% de respostas, os biocombustíveis  tiveram mais respostas entre os executivos de empresas.

O estudo da GlobeScan revelou ceticismo sobre o que poderá acontecer em Copenhague, no final deste ano, quando os líderes das nações se reúnem para discutir o acordo pós-Kyoto. Para 48% dos entrevistados, há pouco ou quase nenhum consenso nas soluções para as mudanças climáticas. Em comparação com o estudo de 2006, que abordou essa questão, especialistas de governos, ONGs e consultores estão mais pessimistas quanto a respostas consensuais para o desafio de reduzir o aquecimento do clima.

Indagados se crêem na possibilidade de um grande acordo internacional, eles se dividem entre os que acham pouco provável (37%) e os que acham provável (33%). Três em cada dez especialistas preferiram ficar em cima do muro.

No bloco dos mais otimistas, puxam a fila os governos. Entre os mais pessimistas, estão os líderes empresariais. Os especialistas da América do Norte são os mais animados com a possibilidade de um acordo de curto prazo. Sinal de que o discurso verde de Barak Obama está fazendo efeito.

(Por Ricardo Voltolini, da Revista Idéia Socioambiental / Envolverde, 29/04/2009)


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