O mercado mundial de energias renováveis está em alta, aponta estudo divulgado esta semana durante a Feira Industrial de Hannover, na Alemanha. Até 2020, esse mercado deverá movimentar 275 bilhões de euros em todo o mundo – em 2005, o valor era de 60 bilhões de euros.
A importância crescente das energias renováveis foi também recentemente lembrada pelo diretor-executivo do Pnuma (Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente), Achim Steiner. De acordo com ele, o setor já emprega 2,3 milhões de pessoas. "Isso é mais do que o setor de refino de gás e petróleo, no qual trabalham 2 milhões de pessoas."
Steiner e outros defensores de meios alternativos de geração de energia sabem que, para crescer ainda mais, o setor de energias renováveis terá que quebrar um padrão: o da economia baseada no petróleo.
"Somos confrontados com o fato de que muitos dos players dominantes na economia mundial trabalham com tecnologias de ontem. Eles não estão bem preparados para as tecnologias sustentáveis e ambientalmente mais inteligentes de amanhã. Há, portanto, um interesse em oferecer resistência", afirmou Steiner.
Mudança estrutural
Para o deputado social-democrata alemão Hermann Scheer, a era dos combustíveis fósseis está definitivamente a caminho do fim. Scheer é presidente da Eurosolar, uma associação europeia de defesa do uso de energias renováveis, e um ativista de longa data no meio.
Para ele, a mudança anda a passos lentos por um motivo bem claro: se a humanidade trocar os combustíveis fósseis pelo uso de vento, sol e água, todo um sistema de abastecimento de energia cai por terra.
"A mudança para as energias renováveis dará início a uma ampla mudança estrutural. Essa mudança já será inevitável apenas se levarmos em conta que fontes de energia comerciais – petróleo, gás, carvão, urânio – serão substituídas por fontes de energia não comerciais – sol, vento e quedas d'água, por exemplo, fornecidas de graça pela natureza."
O problema, argumenta Scheer, é não ser possível trocar a posição de vendedor de petróleo pela de vendedor de ventos ou raios de sol. Com isso, as gigantes mundiais da exploração e comercialização de petróleo perdem a base dos seus negócios.
Consequência lógica dessa situação, afirma Scheer, é que o foco no setor de energia se deslocará para o desenvolvimento de tecnologias capazes de transformar a energia fornecida de graça pela natureza em energia elétrica, em detrimento da exploração de gás e petróleo.
Países emergentes
Há quem já tenha reconhecido essa tendência – e entre eles estão justamente aqueles que mais podem perder com as mudanças no setor. Grandes países produtores de petróleo no Golfo Pérsico estão investindo quantias altas em energias renováveis. Também multinacionais da exploração de petróleo estão se voltando para projetos alternativos de produção de energia.
E se as nações industrializadas não mudarem logo seu foco de ação, poderão ser atropeladas por países emergentes, afirma Jürgen Meier, diretor do Fórum de Meio Ambiente e Desenvolvimento, organização que reúne as principais ONGs ambientalistas e de ajuda ao desenvolvimento da Alemanha.
Ele lembra que a China já é líder mundial no uso de energia solar para o aquecimento de água em prédios e residências. "A China tem também o mais ambicioso programa de energia eólica do mundo. Eles possuem seus próprios fabricantes e não dependem de importação."
E a China também se destaca na fabricação de células fotovoltaicas, embora ainda quase exclusivamente destinadas à exportação. Segundo Meier, isto se deve ao interesse no mercado interno, que é reduzido; mas essa situação deverá mudar em breve.
(Por Helle Jeppesen e Alexandre Schossler, Deutche-Welle, 25/04/2009)