O tão sonhado direito dos índios ao uso exclusivo da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, de 1,7 milhão de hectares, foi confirmado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Agora, as comunidades da região terão pela frente o desafio de buscar alternativas de produção e renda que garantam bem-estar social. A intenção das lideranças é fomentar a produção agrícola de subsistência com apoio dos governos federal, estadual e de entidades parceiras, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra (MST). “Duas pessoas do MST do Rio Grande do Sul vieram a Roraima para nos dizer se seria possível produzir arroz orgânico. Identificaram uma área de serras bem adequada, próximoda fronteira com a Guiana e ficaram de conseguir um técnico para nos ajudar no trabalho”, contou o coordenador- geral do Conselho Indígena de Roraima, Dionito José de Souza. Ele também espera firmar parcerias com órgãos oficiais de assistência técnica agrícola.
Segundo o líder indígena, a principal mudança na vida das comunidades, após a saída de seis grandes produtores de arroz e famílias de agricultores brancos da reserva, será a maior liberdade para definir suas ações. “Vamos escolher locais para criar gado, peixe, plantar arroz, feijão, mandioca, milho, que já plantamos só para consumo próprio, e fazer reflorestamento. Vamos viver como somos e não como os outros mandam”, disse Dionito. Os planos são ambiciosos, mas, nas prática, as principais lideranças indígenas da Raposa não falam a mesma língua na hora de definir prioridades. A Sociedade dos Índios Unidos em Defesa De Roraima (Sodiu-RR) freqüentemente se opõe ao CIR. A Sodiu-RR defendia, inclusive, a permanência dos arrozeiros na reserva. As comunidades ligadas a ela são evangélicas e as ligadas ao CIR, católicas.
A Agência Brasil procurou pelos dirigentes da Sodiu-RR, na sede da associação em Boa Vista, mas foi informada de que eles estavam em uma comunidade dentro da reserva, envolvidos com um processo de eleição de nova diretoria. Não foi possível contactá-los. No CIR, o discurso é de que será possível a vida em coletividade, apesar das divergências. No fim de maio, será realizada uma assembléia-geral de todas as comunidades da Raposa para a definição de ações a serem implementadas na área. Aproximadamente 18 mil índios das etnias Macuxi, Wapichana, Patamona, Ingaricó e Taurepanga vivem em mais de 100 comunidades na região.
“Raposa Serra do Sol é área coletiva. Não vai ficar um pedaço para cada associação. A Sodiu-RR não quis defender a terra como nossa, então não pode querer ficar com área só para ela”, argumentou Dionito. Um ponto de conflito entre as associações é a destinação que será dada ao Lago Caracaranã, a 166 quilômetros de Boa Vista, que conta com uma praia de água doce e cristalina e é considerada um dos pontos turísticos mais belos do estado.
O dirigente do CIR disse não ter se incomodado com a ordem do produtor de arroz Paulo César Quartiero para destruir a sede e galpões da fazenda que ocupava ilegalmente na reserva. “A gente não precisava daquela casa. Se pudessem levar até os rastros dele [Quartiero], eu ficaria satisfeito. Quero nossa terra desintrusada (sic) de terrorista como ele”, afirmou Dionito.
(Por Marco Antonio Soalheiro, Agência Brasil, 28/04/2009)