A estiagem que castiga os campos gaúchos desde o final do ano passado já provocou queda de 35% na produção leiteira do Rio Grande do Sul, em função da indisponibilidade de pastagem. A falta de umidade no solo impossibilitou que os produtores cultivassem espécies nativas, além de ter prejudicado as lavouras de aveia plantadas no cedo. A situação é preocupante, pois a falta de alimento ocorre na época em que a produção deveria estar a pleno a fim de suprir a alta demanda de pasto do período de inverno.
O zootecnista do escritório regional da Emater de Bagé, Fábio Schlick, disse que a tendência é de que o período conhecido como "falha de outono", quando o alimento escasseia no campo, deva se estender por mais tempo. "Em anos normais esse período dura até junho, mas agora pode se estender até agosto", prevê. O especialista informou que a situação é preocupante e que os produtores devem estar preparados para utilizar silagem armazenada e até dispor de outras fontes de alimento para as vacas, como milho. "Mesmo que as chuvas ocorram, com a intensificação do frio ficará ainda mais difícil o desenvolvimento satisfatório das pastagens", explica.
Em períodos de precipitações regulares, a queda na produção leiteira chega, nesse período do ano, a 20%. Para Schlick, a tendência é de a redução de 35% na produção aumente até o final da entressafra. Conforme a Emater-RS, muitos pecuaristas têm feito uso da silagem de milho e de plantas de milho afetadas pela estiagem da safrinha para alimentar os animais. Em diversos municípios da região norte do Estado as prefeituras estão fornecendo água para matar a sede do rebanho por meio de caminhões-tanque.
A preocupação entre os representantes da indústria também é grande, especialmente no momento em que tem aumentado a importação de leite em pó de países vizinhos que chega ao Brasil com preços inferiores aos praticados no Estado. "Estamos duplamente preocupados, pois não sabemos até quando será possível segurar os preços aos produtores", disse o secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat), Darlan Palharini. O leite em pó importado é comercializado em média por R$ 4,38 o quilo, enquanto que o produto nacional chega a R$ 6,50 o quilo. Segundo a entidade, em março de 2008 foram importadas 1,9 mil toneladas do produto. No mesmo período deste ano esse volume saltou para mais de 11,7 mil toneladas. O dirigente diz não temer o desabastecimento interno em função da estiagem, mas sim a promoção de um choque interno da cadeia produtiva, em função da entrada de produto estrangeiro. "Não acreditamos no caos da falta de matéria-prima, apesar do problema de produção afetar toda a região Sul", diz Palharini.
O presidente da Fetag, Elton Weber, destacou que em algumas regiões a redução produtiva já alcança 60%, especialmente em municípios da região das Missões. É uma situação que deve inviabilizar o pagamento dos financiamentos dos produtores, já que o custeio pecuário não conta com seguro. "Estamos lutando para conseguir uma bonificação para que ao menos os produtores prejudicados possam quitar seus financiamentos", diz.
(Jornal do Comércio, 29/04/2009)