A pecuária na Amazônia deveria se tornar uma atividade mais intensiva para que houvesse oferta de terras para a co-produção de insumos agrícolas para alimentar a indústria do biocombustível. Este foi um dos pontos defendidos pelo pesquisador Ingnacy Sachs durante o lançamento do livro "Biocombustíveis - A energia da controvérsia", que aconteceu nesta segunda (27/04) na Livraria da Vila, em São Paulo.
Durante palestra que precedeu a sessão de autógrafos, Sachs, que é um dos co-autores da obra, comentou sobre o papel do gado na Amazônia como fator de desincentivo à agricultura familiar para insumos do biocombustível. "Temos 100 mil cabeças de gado para 100 mil hectares de pasto na Amazônia. Se reduzíssemos para dois bois por hectare, o que já é algo imenso, já conseguiríamos uma França agrária para o plantio [de insumos para o biocombustível]", afirmou o pesquisador.
Sachs defendeu que é possível uma co-produção agrícola de matérias primas para a geração de energia em conjunto com outras culturas, aproveitando a terra. O pesquisador também criticou o modelo que está sendo instalado para a cultura destas sementes, que nada diferem da tradição latifundiária brasileira. "Um dos grandes problemas do século XXI é a tese de que progresso significa urbanização. Isto é insustentável, caminhando para um planeta favela", afirmou explicando que é preciso dar condições para que hajam pequenas propriedades no campo para a produção humanizada.
A obra
Lançado para uma pequena platéia de interessados no tema, o livro "Biocombustíveis - A energia da controvérsia", organizado pelo professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) Ricardo Abramovay, reúne textos de diversos autores da área de energias alternativas, como Ignacy Sachs, Marcos Jank, Jean Marc Von der Weide e Arnoldo de Campos, e tem como principal objetivo discutir o modelo de produção de biocombustíveis no Brasil e lançar novos horizontes para o setor.
Além disso, a obra esclarece as questões conflituosas entre a produção energética agrícola e a tese de que a expansão desta cultura diminuiria a oferta de alimentos, e explica por que alguns dos programas do governo federal de incentivo a produção não alcançaram sucesso e por que houve a adaptação destes sistemas à cultura latifundiária brasileira.
(Por Flávio Bonanome, Amazonia.org, 28/04/2009)