O 36º aniversário da assinatura do Tratado de Itaipu, relembrado neste domingo (26/04), foi marcado por protestos de cidadãos paraguaios em frente às embaixadas e consulados do Brasil no Paraguai, Estados Unidos, Canadá, Argentina, Austrália, Japão e países do continente europeu. A iniciativa do protesto surgiu em Nova York, no início do mês, com a realização de um congresso de imigrantes paraguaios. Assim, desde as primeiras horas da manhã de domingo, cerca de 100 manifestantes marcaram presença nas calçadas ao redor do referido consulado brasileiro.
O maior protesto, no entanto, ocorreu na capital paraguaia, Asunción, com ativistas ligados a partidos políticos e moradores das proximidades organizando uma caminhada em torno da embaixada brasileira, portando cartazes e faixas alusivas às reivindicações do atual governo quanto à usina binacional. Apesar do grande contingente policial mobilizado, a manifestação foi pacífica, com a polícia advertindo aos manifestantes que não permitiria o fechamento da rua Mariscal López, tal como previsto inicialmente.
Domingo Laíno, ex-senador e líder histórico da oposição paraguaia durante os anos de supremacia do Partido Colorado, foi um dos ilustres participantes do protesto. “O Brasil posterga a solução a muitos problemas com o Paraguai. A cada dia que passa, nos roubam milhões e milhões de guaranis”, denunciou. Por sua vez, Juan Almirón, coordenador da manifestação, declarou ao jornal ABC Color que o governo de Fernando Lugo é o primeiro, desde a construção de Itaipu, “que encara o Brasil”. O slogan central do protesto, expresso em cartazes e coros entoados pelos participantes, foi o de “Preço Justo Já”.
Nos próximos dias 07 e 08/05, os presidentes Fernando Lugo e Luiz Inácio Lula da Silva reúnem-se, em Brasília, para uma nova rodada de negociações em torno da binacional. Outros assuntos de relevância, como a construção de uma ponte sobre o rio Paraguai, deverão estar igualmente presentes na pauta do encontro.
Balanço Geral
Em entrevista ao Diário Última Hora, o coordenador da equipe paraguaia de negociação, Ricardo Canese, fez um balanço geral das conversações mantidas desde que, em agosto de 2008, Fernando Lugo substituiu o colorado Nicanor Duarte Frutos na chefia do Executivo paraguaio. “O tema da execução das obras faltantes, o Brasil já aceitou. Em matéria de controle, também acedeu a que nossa Controladoria entre a analisar a dívida, que é outro avanço muito importante”, ponderou Canese.
“E na cogestão ou administração paritária também, a princípio, estão de acordo, embora nós estejamos pedindo que as diretorias financeiras e técnicas sejam também exercidas por paraguaios. Neste sentido, tampouco há algum temor no Brasil”, completou. “Em compensações ou preço justo, que é o segundo ponto da pauta, já houve uma resposta do Brasil e nós vemos que, na medida que eles passem a abrir-se, haverá um avanço maior”, destacou Canese, entrando, em seguida, no espinhoso tema da “soberania energética”.
“Esperamos que também se dê um avanço e a notícia de que foi formada uma comissão para estudar o possível ingresso da ANDE no mercado brasileiro, de alguma maneira está deixando entrever isso. Espero que o Brasil se abra e que não apenas possamos vender ao mercado brasileiro, mas também à região”. “Nós estamos pleiteando que nossa energia deve servir não somente para proveito de nosso país, mas de toda a região. À medida que disponhamos da soberania, aí se produzirá a integração energética regional, que beneficiará nosso país e os demais países”, finalizou.
(Por Guilherme Dreyer Wojciechowski, SopaBrasiguaia.com, 27/04/2009)