Os produtores de arroz que estão deixando a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, onde constituíram fazendas nas últimas décadas, intensificaram nesta semana as conversas com autoridades da Guiana que podem resultar na transferência de suas atividades para o país vizinho. O governo da Guiana estaria disposto a oferecer áreas próprias para cultivo de arroz, a serem exploradas por tempo determinado e com isenção de impostos. Um ministro daquele país iria se reunir na noite desta segunda (27/04) com os produtores. Mas a consolidação de uma parceria dependerá de uma extensa lista de condições. “Vamos levantar o custo de produção e ver o que eles vão querer em troca, se será possível cultivar lá e manter usinas aqui. Tudo isso será avaliado com cuidado após essa primeira conversa”, afirmou o presidente da Associação do Arrozeiros de Roraima, Nelson Itikawa.
A saída dos produtores da Raposa foi determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), após decidir no mês passado manter a demarcação da reserva de 1,7 milhão de hectares - homologada pelo governo federal em abril de 2005 - em faixa contínua. “ Nós não vamos desistir nunca. Vamos continuar produzindo aqui ou fora”, garantiu a empresária Regina Barilli, esposa do arrozeiro Ivo Barilli. Ela lembrou, porém, a dificuldade de encontrar em Roraima outras áreas propícias à atividade. “ Área igual àquela [da Raposa Serra do Sol], para se plantar seguido, não tem. Existem outras, mas pequenas e pulverizadas”.
Na tarde de ontem, o produtor Paulo César Quartiero analisava detalhadamente um mapa da Guiana em seu escritório. Disse também ter recebido a oferta de terras no interior de São Paulo. Os arrozeiros estão insatisfeitos com os governos federal - pela indenização oferecida pela saída da Raposa após a demarcação da reserva em faixa contínua - e estadual - por, segundo eles, demonstrar pouco empenho em criar condições para mantê-los em Roraima. Para Quartiero e Itikawa, o futuro da economia do estado está comprometido. “Roraima acabou. Aqui não se consegue licença ambiental para nada. Vai virar estado de contracheque”, afirmou o primeiro. “O estado já é pobre e ficará pior se perder produção e empregos”, ressaltou Itikawa.
Os arrozeiros relatam já terem demitido de 20% a 50% do quadro de funcionários fixos. Seguno Itikawa, a atividade gerava no estado pelos menos 1.000 empregos de carteira assinada e outros 4 mil indiretos e temporários. Itikawa , que explorava 7 mil hectares na área demarcada, disse que a indenização oferecida pela Fundação Nacional do Índio (Funai) foi de cerca de R$ 300 mil, que, segundo ele, representa 5% do valor que considerava justo.
Os arrozeiros já ajuizaram ações na Justiça Federal pedindo indenizações maiores. “O governo ainda não fez o que prometeu no decreto [de demarcação], que foi indenização prévia., justa e realocação em outra área”, criticou Quartiero. “Minha área era titulada e nos chamam de invasores ou grileiros. O governo até agora não cumpriu nada”, reforçou Itikawa.
(Por Marco Antonio Soalheiro, Agência Brasil, 27/04/2009)