Depois de a OMS elevar o alerta sobre a gripe suína para o nível quatro --em uma escala de risco de pandemia que vai de zero a seis--, vários países do mundo intensificaram suas medidas de combate e prevenção à doença. Estados Unidos, Japão, e Reino Unido desaconselharam que seus habitantes viagem ao México, onde o vírus já matou ao menos 20 pessoas e contaminou 1.600 --outras 130 mortes estão sendo investigadas para se verificar se foram causadas pela doença. O vírus já infectou também ao menos ao menos 50 pessoas nos EUA, seis no Canadá, uma na Espanha e duas na Escócia, e há casos suspeitos na Noruega e em Israel. Não há casos confirmados no Brasil, embora 11 estejam sendo investigados.
No Japão, onde ainda não há registros de casos, governo anunciou que vai endurecer a concessão de vistos para cidadãos mexicanos. "O ministério das Relações Exteriores vai determinar à embaixada do Japão no México que suspenda, temporariamente, a expedição de vistos, para reforçar os procedimentos de controle envolvendo aquele país", disse um funcionário do governo japonês.
Empresas do Japão que operam no México recomendaram a seus funcionários japoneses que deixem o país. Um porta-voz da multinacional Denso disse à agência Efe que seus 44 funcionários japoneses residentes no México foram aconselhados a retornar ao Japão junto com suas famílias. "Os familiares já começaram a se preparar para abandonar o México", disse. A Honda pediu que seus trabalhadores abandonem seus planos de viagens de negócio a partir de amanhã. A medida foi seguida pela companhia Kao Corporation, fabricante de produtos cosméticos e químicos, que proibiu a partir de hoje as viagens à América do Norte, segundo a agência local "Kyodo". A Canon se uniu a este grupo e proibiu todos os seus funcionários de viajar ao México, exceto por motivos urgentes.
Autoridades sanitárias do país irão monitorar passageiros que cheguem de voos da América do Norte para tentar verificar sinais da doença. Na China, o governo vai inspecionar as fazendas de porcos.
Nos Estados Unidos, embora ao menos 50 casos da doença já tenham sido confirmados em cinco Estados --28 em Nova York, 13 na Califórnia, seis no Texas, dois em Kansas e um em Ohio, o governo recomendou aos cidadãos que evitem viajar ao México. Em aeroportos, portos e fronteiras terrestres dos Estados Unidos, os funcionários começaram a interrogar os viajantes e a examinar os que apresentam sintomas de gripe, informou a chefe do departamento de Segurança Interna, Janet Napolitano. Algumas escolas tiveram as aulas suspensas na cidade de Nova York, e nos Estados do Texas, da Califórnia, da Carolina do Sul e de Ohio.
O governo americano anunciou ainda que vai mandar grande quantidade de medicamentos contra a gripe para as regiões de fronteira com o México e locais do país onde há casos da doença. O presidente Barack Obama disse que é preciso ficar atento mas que também é necessário evitar o alarmismo.
O governo britânico também aconselhou seus cidadão a evitarem viagens ao México, ao menos que sejam essenciais. O ministério do Exterior disse que britânicos que vivem ou que pretendam visitar o México devem considerar permanecer na Grã-Bretanha. Há dois casos confirmados de gripe suína na Escócia.
Na França, as autoridades aconselharam "seriamente" os cidadãos a evitarem as viagens ao México.
As restrições a viagens e os efeitos de uma epidemia podem agravar a situação econômica do México, país atingido fortemente pela crise financeira global. Desde o ano passado, o peso teve uma grande desvalorização em relação ao dólar, e o país recorreu neste mês a uma linha de crédito de US$ 47 bilhões do Fundo Monetário Internacional para garantir o valor da sua moeda e afastar os temores sobre a queda das reservas nacionais.
OMS contesta restrições
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), "fechar fronteiras ou restringir viagens terá pouco efeito para deter o movimento do vírus" da gripe suína. "Seria preciso impor restrições realmente draconianas sobre as viagens para se obter um impacto", estimou hoje o número dois da OMS, Keiji Fukuda.
Em entrevista coletiva concedida nesta segunda-feira por telefone, de Nova York, Laurie Garrett, autora do livro "A Próxima Peste", sobre o surgimento de doenças infecciosas, disse que o fechamento da fronteira com o México seria inútil.
"O que podemos dizer é que essa mutação específica que estamos chamando de vírus da gripe suína apareceu em dois indivíduos no sul da Califórnia e em um indivíduo no Texas, no meio de março, então se eu fosse o México, eu estaria perguntado, "por que os EUA estão apontando o dedo para nós?"", disse ela, que venceu um prêmio Pulitzer de jornalismo pela cobertura do aparecimento de ebola na África, no anos 90.
Porcos em risco no Egito
No Egito, parlamentares pediram na Câmara Baixa do Parlamento o sacrifício de todos os porcos do país, cujo número se calcula em aproximadamente 350 mil. Os deputados pediram ao governo que isole as fazendas de porcos e as transfira para longe dos núcleos urbanos, para evitar que a gripe suína possa se estender.
A solicitação coincide com as primeiras medidas adotadas pelo Ministério da Saúde egípcio para prevenir que a doença chegue ao país, de maioria muçulmana e onde a carne de porco é consumida majoritariamente pela minoria cristã, que constitui 10% da população.
A religião muçulmana considera os porcos impuros e proíbe o consumo de carne deste animal.
Além disso, em portos e aeroportos foram estabelecidas salas de quarentena e unidades de controle, em previsão da aparição de algum caso.
Outros países árabes da região, como o Líbano e a Jordânia, já proibiram a importação de carne porco.
FAO contesta ligação com porcos
Já a A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) anunciou nesta terça que está mobilizando especialistas em saúde animal para irem ao México verificar se o novo vírus, amplamente conhecido e descrito por "gripe suína" está mesmo relacionado aos porcos.
"Por enquanto, a transmissão parece estar acontecendo somente de humanos para humanos e não há evidências concretas de que o novo vírus da gripe tenha chegado à população humana diretamente dos porcos", diz um comunicado da organização.
A doença, que tem sintomas parecidos com os da gripe comum, é causada por um vírus com material genético combinado de vírus da gripe humana, suína e de aves, que, segundo os cientistas, se combinaram no organismo de porcos. A transmissão é feita de pessoa para pessoa, através de espirros e tosse, como uma gripe comum, e não há risco de infecção pela ingestão de carne de porco cozida, informam os especialistas.
(UOL com agências internacionais, 27/04/2009)