"O agronegócio tenta deslocar a agricultura familiar e camponesa, como todo tipo de práticas ilegais e violentas que às vezes contam com a cumplicidade de funcionários corruptos", denunciou Diego Montón, integrante da Via Campesina/Mocase - Argentina, durante a Reunião do Comitê de Agricultura da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, realizada de 22 a 24 de abril, em Roma.
Em sua intervenção, Montón afirmou que o movimento camponês internacional, que integra mais de 300 milhões de famílias de camponeses, indígenas, pequenos agricultores e trabalhadores rurais, espalhados em mais de 80 países, está muito preocupado com o tema do agronegócio.
"Nos últimos anos, avançou-se muito em tecnologias agropecuárias, no entanto a fome cresce. Na atualidade, são produzidos alimentos suficientes para alimentar toda a população mundial. O problema não é de produção de alimentos, mas de como são produzidos, quem os produz, como são distribuídos e como se tem acesso aos mesmos", ressaltou.
Montón declarou que o agronegócio e as corporações multinacionais têm obtido uma alta concentração em todos os níveis das cadeias agroalimentares, constituindo um fator decisivo no aumento dos preços dos alimentos que os tem posto fora do alcance de muitos setores.
O integrante da Via Campesina destacou que muitos países têm perdido a capacidade de autoabastecer-se de alimentos e passaram a depender do comércio internacional e da assistência. "O modelo de agricultura industrial tem aumentado a fome dos povos, prejudica severamente o ambiente e incide gravemente no aumento do aquecimento global. O único objetivo do agronegócio é o lucro e a ganância", sentenciou.
Segundo Montón, a agricultura camponesa, ao contrário, abastece de alimentos os povos, cria empregos dignos, conta com uma experiência milenar na relação com a natureza, e por isso tem a capacidade de mitigar os efeitos sobre as mudanças climáticas: "A agricultura camponesa esfria o planeta".
Sobre o papel desempenhado pela FAO no conflito entre agronegócio e agricultura familiar, Montón afirmou que o organismo deve ter um espaço institucional específico de consulta com os camponeses, mulheres rurais, indígenas, pastores e pescadores. Demandou que a FAO se concentre em seu principal objetivo que é a luta contra a fome. "A FAO deveria investigar a concentração que existe nas cadeias agroalimentares nas mãos das corporações e sua relação com o aumento dos preços dos alimentos e dos insumos", disse.
(Adital, 27/04/2009)