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termelétricas a carvão captura de carbono
2009-04-27

Numa ambiciosa proposta para conter o aquecimento global, uma empresa quer construir uma usina termoelétrica a carvão nos arredores de Nova York que iria capturar suas emissões de dióxido de carbono e bombeá-las para um local a 113 km da costa. O gás seria injetado no arenito que fica 1,6 km abaixo do leito marinho, na esperança de que permaneça ali por muito tempo. Especialistas há anos acham que capturar as emissões das usinas elétricas será crucial para controlar a mudança climática. Mas projeções sobre o alto custo e a incerteza científica limitaram o progresso dessa tecnologia. Agora a SCS Energy, de Massachusetts (EUA), argumenta não só que pode construir e operar a primeira usina desse tipo no mundo, como também lucrar com ela, apesar dos custos de US$ 5 bilhões. Se der certo, a usina pode se tornar um modelo. A localização é importante na proposta: um velho parque industrial perto da costa em Nova Jersey. Dali a empresa pode vender energia, e a injeção do gás bem abaixo do leito marinho, onde a pressão ajuda a mantê-lo afundado, elimina parte da incerteza que poderia acompanhar um projeto similar em terra.

A proposta desperta dúvidas ambientais e políticas, e não está claro se a empresa superará a oposição contra a construção qualquer nova usina elétrica no Nordeste dos EUA. Mas se a proposta for aprovada e conseguir sepultar 90% das suas emissões de CO2, como planejado, será um grande passo na direção de uma solução tecnológica para o aquecimento global. O plano deve ser ouvido com atenção em Washington, onde o presidente Barack Obama prometeu colocar em prática novos planos para a energia limpa. "Se der certo, será muito difícil para as empresas elétricas dizerem, 'Ah, não dá para fazer isso'", disse Daniel Schrag, geoquímico da Universidade Harvard, cujo trabalho inspirou a proposta. Em um documento de 2006, ele argumentou que as camadas de rocha sob o leito oceânico poderiam ser o melhor lugar para armazenar as enormes quantidades de CO2 que as sociedades industriais lançam na atmosfera.

A SCS Energy, que contratou Schrag como consultor ao conhecer seu trabalho, tem se especializado em projetos complicados. A empresa comprou por US$ 95 milhões o terreno de uma antiga indústria química em Nova Jersey, próximo a ferrovias e barcaças que podem transportar carvão. Serão necessárias mais de 12 autorizações de agências estaduais e federais. Um duto subterrâneo de aço, com 61 cm de diâmetro, transportaria o CO2 líquido da usina elétrica até um local a 113 km da costa, sob quase um quilômetro de água. Um poço então injetaria o CO2 a uma profundidade de cerca de 1,6 km abaixo do leito marinho, numa camada de arenito antigo. Schrag disse que o CO2 passaria milhões de anos ali, preso por uma espessa camada de lama e pelo peso do mar. Nem terremotos ou deslizamentos submarinos deveriam desalojar o material, segundo ele.

"O pior que poderia acontecer seria um pouco de CO2 escapar na atmosfera", disse Dean Malouta, gerente de tecnologia para exploração e produção da Shell nas Américas, que financiou algumas pesquisas correlatas. Mundialmente, há mais de 12 projetos em andamento para armazenar emissões industriais. A Noruega é o único país a já ter realizado um grande projeto para enterrar emissões de gases-estufa sob o leito marinho, a 250 km da sua costa do mar do Norte. Esse projeto funciona de forma segura há 13 anos, mas enterra menos de 25% do total de CO2 proposto para Nova Jersey. Ambientalistas se dividem sobre a abordagem. "O ônus da prova [quanto a sua viabilidade] claramente ficará com os desenvolvedores do projeto", disse Mark Brownstein, do Fundo de Defesa Ambiental.

(Por Kate Galbraith, The New York Times / Folha de S. Paulo, 27/04/2009)


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