A África é duplamente penalizada pelas alterações climáticas porque sofre diretamente as consequências e não recebe incentivos para a criação de indústrias limpas, defendeu o vice-ministro luso das Relações Exteriores, João Gomes Cravinho.
"Por estar num estágio de desenvolvimento menos avançado, [a África] não polui e, portanto, também não tem incentivos especiais, ao contrário do que acontece na Índia, na China, no Brasil, para o desenvolvimento de indústrias limpas", disse Cravinho, em entrevista à Agência Lusa.
"Nestes últimos anos, o protocolo de Kyoto não tem favorecido o desenvolvimento de mecanismos de combate às alterações climáticas porque a África não é um continente poluidor e, como tal, também não se desenvolveram mecanismos de compensação para o desenvolvimento de indústrias não poluidoras", afirmou.
Em relação aos países lusófonos, o secretário luso de Estado da Cooperação declarou que existe uma sensibilidade para a questão das alterações climáticas, embora "de forma diferente de país para país".
"Temos relações fortes com o Brasil ou com Cabo Verde, que sofrem diretamente as consequências das alterações climáticas. Cabo Verde é um caso em que isso é extremamente palpável. O Brasil é uma experiência completamente diferente, nomeadamente com a gestão da floresta amazônica", exemplificou.
"Nosso principal desafio é encontrar respostas adequadas a cada contexto, mas que façam sentido numa lógica global", disse, acrescentado esperar que surja "um regime internacional novo que seja muito mais estimulante do desenvolvimento no continente africano".
Questão climática
A Conferência da ONU sobre o Clima será realizada em dezembro, em Copenhague. A Comissão Europeia (braço executivo da União Europeia) já apresentou propostas para um novo acordo mundial, como um financiamento substancialmente superior aos países em desenvolvimento para ajudar a combater o problema.
Entre as propostas concretas, está a criação de um mercado do carbono na Organização para o Desenvolvimento e Cooperação Econômica (OCDE) até 2015.
O acordo de Copenhague deve, segundo a UE, não só estabelecer metas mundiais para a redução das emissões, mas também proporcionar uma base para o reforço da capacidade de adaptação de cada país às alterações climáticas.
Para que as emissões possam ser reduzidas, os 27 países da UE preveem que o investimento adicional líquido à escala mundial poderá subir para cerca de 175 bilhões de euros por ano em 2020. Só os países em desenvolvimento necessitarão de mais de metade deste montante.
(Lusa / UOL, 26/04/2009)