Desperdício do insumo se agrava com a crise econômica e cresce 29% neste ano
Queda da demanda industrial e menor uso de termelétricas levam a aumento do descarte do produto, que é extraído com petróleo e não estocado
A freada na economia causou, em fevereiro, desperdício de 8,1 milhões de metros cúbicos de gás por dia, queimados nas plataformas marítimas da Petrobras, sobretudo na bacia de Campos. O volume corresponde a pouco menos do consumo do Estado do Rio de Janeiro, o segundo maior do país.
Em valores, a perda em fevereiro atingiu R$ 5 milhões ao dia -com base no preço de R$ 0,62 por metro cúbico.
O desperdício ocorre porque a Petrobras produz a maior parte do gás associada à extração de petróleo. Se fechar os poços, a empresa interrompe também a produção de óleo, mais rentável. A saída é queimar o gás na plataforma ou usá-lo em suas próprias operações.
Na média dos dois primeiros meses deste ano, a queima de gás cresceu 29% e chegou a 7,1 milhões de metros cúbicos, segundo relatório do MME (Ministério de Minas e Energia). Na média de 2008, a perda era de 6 milhões de metros cúbicos.
O problema da queima do gás sempre existiu, mas se agravou com a crise, que fez o mercado encolher com a retração da indústria a partir do fim de 2008. Houve também menor uso das termelétricas a gás neste ano.
Segundo a Abegás (Associação Brasileira das Distribuidoras de Gás Canalizado), as vendas caíram 31,7% no primeiro bimestre do ano.
Além da redução da produção industrial e da consequente menor demanda, o preço mais alto do insumo também desestimulou o consumo. É que muitas indústrias migraram para o óleo combustível, derivado de petróleo substituto do gás para aquecimento de caldeiras.
Pelo relatório do MME, o preço do gás estava, em fevereiro, 60% mais caro no Sudeste do que a cotação de referência internacional nos EUA. O preço da Petrobras já recuou a partir de 1º de abril para algumas distribuidoras do Sul e do Sudeste. Para outras, como as do Rio, o ajuste será em 1º de maio.
Em recente entrevista à Folha, a diretora de Gás e Energia da Petrobras, Maria das Graças Foster, disse que a venda de gás começou a reagir em março -embora não tenha voltado ao nível pré-crise. Naquele mês, havia sobra de cerca de 15 milhões de metros cúbicos.
Para estimular o consumo, a estatal fez na sexta-feira um leilão do gás excedente para distribuidoras. Vendeu 3,6 milhões de metros cúbicos -37% da oferta, com preço 36% inferior à media dos contratos.
"O sentido principal é que o desconto chegue ao consumidor final do gás", disse ela.
Para o especialista Marco Tavares, da consultoria Gas Energy, falta uma política clara para o preço do gás -que ora estimula o consumo com descontos como os praticados até 2006 e ora o mantém acima das cotações internacionais. Os preços mais altos, diz, inibem o crescimento do mercado. "A indústria fica com receio de mudar para o gás."
Novas plataformas
A Petrobras afirma ainda que o aumento da queima se deve à entrada em operação de duas plataformas neste ano na bacia de Campos, capazes de produzir 4 milhões de metros cúbicos de gás associado ao petróleo.
É que os sistemas de compressão e escoamento de gás dessas unidades ainda estão em fase de instalação, o que impede o uso total do gás produzido.
Segundo a estatal, porém, o aproveitamento do gás produzido conjuntamente com o petróleo cresceu da faixa de 75% em 1999 para 85%. Nesse período, a queima do produto caiu 3,5 milhões de metros cúbicos. A meta é utilizar 92% de todo o gás produzido em 2010.
(Folha de São Paulo, 26/04/2009)