Os transgênicos [ou OGM, organismos geneticamente modificados] fazem milagres, até onde menos se espera. No Vaticano, por exemplo, onde a palavra do Papa Bento XVI, graças a algum enxerto geneticamente modificado, corre o risco de perder importância... Abre-te, céu... Porque, se Joseph Ratzinger prega bem, Marcelo Sanchez Sorondo, chanceler da Pontifícia Academia das Ciências, escreve mal.
O primeiro nós conhecemos, mas talvez poucos recordem que, no dia 19 de março, ele foi à África para apresentar um documento preparatório ao Sínodo especial africano, e que o parágrafo 58 soava como um mau presságio para as multinacionais da biotecnologia. O papa não é um dos que manda dizer. "A campanha de sementes dos organismos geneticamente modificados (OGM), que pretendem assegurar a segurança alimentar – lê-se no texto – não deve fazer esquecer os verdadeiros problemas dos agricultores: a falta de terra arável, de água, de energia, de acesso ao crédito, de formação agrícola...".
Mais claro do que isso só quando diz que "esta técnica pode arruinar os pequenos proprietários, de suprimir a sua sementeira tradicional tornando-os dependentes das sociedades produtoras dos OGM" – é sempre o Papa que fala, e de matéria viva. Uma mudança.
Porém, visto como estão se ajeitando as coisas no Vaticano, parece que sua eminência Marcelo Sanchez Sorondo já planificou uma "contra reforma" com a etiqueta Monsanto. Ele fica louco pelos OGM, ao ponto em que, depois do fracasso papal na terra da África, participando do Fórum da Confagricoltura [Confederação Geral da Agricultura Italiana, órgão representativo do setor agrícola], em Taormina, se sentiu obrigado a desmentir sua santidade, ou melhor, a retificar o seu pensamento para se fazer compreender pelos mortais que o teriam mal interpretado. Essa atitude teve momentos ambíguos. Por exemplo, "dou razão à modernidade do Papa Bento, quando diz que é preciso alargar a razão, não há riscos, mas há um problema de justiça...". E ainda: "O Papa só entregou um documento de trabalho, acima de tudo não falou sobre OGM, mas de exploração por parte das multinacionais".
Enfim, o mal estaria fora do caminho. Mas, justamente dom Sanchez Sorondo, entre os dias 15 e 19 de maio, fará as honras da casa em um encontro de cinco dias completamente alinhado com as multinacionais da biotecnologia, à sombra da Basílica de São Pedro. O organizador é uma autoridade indiscutível. Chama-se Ingo Potrykus, e é o "pai" do legendário "golden rice", o arroz enriquecido de betacarotenos e vitamina A, que, segundo os especialistas da Syngenta, poderia empalidecer o mito da multiplicação dos pães e dos peixes.
A multinacional suíça terá um lugar de primeira fila no congresso, assim como a Monsanto, entre os patrocinadores da mudança científica do Vaticano. Mario Capanna, presidente da Fundação Direitos Genéticos, que, como outras associações independentes, não foi convidada, contesta a cientificidade de uma escolha que compromete o patrimônio agrícola mundial. Mas essa abordagem, levando-se em consideração a sede, poderia não ser totalmente convincente. Talvez, seria preciso um milagre.
(Por Luca Fazio, Il Manifesto / IHUnisinos, 24/04/2009)
Tradução de Moisés Sbardelotto