Todos os anos 3,5 mil pessoas morrem na cidade de São Paulo (SP) devido à má qualidade do ar. Entre 5% e 10% das mortes consideradas por “causas naturais” na Grande São Paulo são resultados de danos causados pela poluição atmosférica à saúde da população. Até 2040, cerca de 25 mil mortes estarão relacionadas à poluição do ar da região metropolitana de São Paulo. Os dados foram apresentados pelo professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Laboratório de Poluição da USP, Paulo Saldiva, durante o seminário "Qualidade do Ar e Políticas Públicas Socioambientais nas Metrópoles Brasileiras", realizado no Instituto de Estudos Avançados (IEA).
O evento integra um ciclo de debates sobre políticas públicas ambientais, promovido pelo Grupo de Pesquisa de Ciências Ambientais, que realizará outras palestras nos dias 29 de abril e 6 de maio. Além do professor, o seminário contou com a participação de outros dois pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da USP, João Vicente Assunção e Helena Ribeiro.
Para os pesquisadores a frota automotiva é a verdadeira vilã do problema de poluição do ar. “A poluição industrial em São Paulo está controlada desde a década de 1980 através de filtros. Hoje, só a capital paulista tem quase 6 milhões de veículos (21% da frota nacional). Mais 1 milhão de carros e 150 mil caminhões ainda entram na cidade todo dia”, alertou Helena. De acordo com Saldiva, a qualidade do ar as ações da Secretaria do Meio Ambiente conseguem controlar, mas não resolver, a situação. “As medidas compensaram o aumento da frota, que cresce a cada ano 10%. Mas ainda é pouco para solucionar o problema”, destacou.
Soluções
“O primeiro passo seria melhorar o que existe. A ideia que o paulistano não usa transporte público não é verdade. Indício disso é a valorização imobiliária de regiões perto do metrô”, explicou Saldiva. A professora Helena também lembrou que em 2008 aconteceu a primeira inversão na curva de aumento do uso de carro e transporte coletivo. “O paulistano utiliza transportes públicos para se locomover, mas para aumentar esses números precisamos exigir mais qualidade e eficiência”.
Para o professor Ribeiro, seria necessário melhorar as condições de mobilidade urbana e regularizar os compostos químicos liberados para a atmosfera assumindo as metas para cortar os poluentes. “A questão do carro é diferente, não depende só da inspeção veicular. Muitas medidas já foram tomadas, mas o grande problema é a antiga frota que ainda circula e emite muitos poluentes”, apontou. “Implantar muitas ciclovias na capital como na Marginal e Radial Leste também seria uma boa alternativa”, completou.
“Investir em transporte público, especialmente no metrô”, destacou Vicente. O professor também ressaltou o tratamento dado aos pedestres. “O pedestre do Brasil é de terceira categoria, não existe a prioridade para o pedestre, infelizmente vivemos uma cultura do carro”.
De acordo com Saldiva, para diminuir a poluição produzida pelos carros, é necessário melhorar a locomoção dos pedestres, assim como um lugar para amarrar as bicicletas e tomar banho. “As motos não são uma boa saída, pois ainda não estão com tecnologia ideal, poluindo bastante. O rodízio funcionaria se durante o período fossem tomadas medidas estruturais para redução da poluição, pois ele tira 20% dos carros, mas a frota aumenta 10% a cada ano”, finalizou.
Poluição do ar e saúde
A poluição atmosférica causa efeitos à saúde como problemas oftálmicos, doenças dermatológicas, problemas gastrointestinais, problemas cardiovasculares, doenças pulmonares, alguns tipos de câncer, efeitos sobre o sistema nervoso e algumas doenças infecciosas.
O nível de poluição atmosférica é determinado pela quantificação das substâncias poluentes presentes no ar. O grupo de poluentes considerados como indicadores mais abrangentes da qualidade do ar é composto por monóxido de carbono, dióxido de enxofre, material particulado e ozônio, mais o dióxido de nitrogênio. A razão da escolha desses parâmetros como indicadores de qualidade do ar está ligada a sua maior frequência de ocorrência e aos efeitos adversos que causa ao meio ambiente.
Ciclo de seminários
O ciclo de palestras do IEA sobre políticas públicas ambientais continua no dia 29 de abril com o tema "Meio Ambiente, Desigualdades e Representações Sociais - Uma Análise Comparativa entre São Paulo e Paris". Por fim, o terceiro seminário do ciclo tratará da "Governança da Água no Brasil" no dia 6 de maio.
Os interessados em participar do ciclo devem se inscrever com mensagem para ineshita@usp.br. Os seminários são transmitidos online pelo site http://www.iea.usp.br/aovivo. O IEA fica na Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, 374, Cidade Universitária, São Paulo (SP).
(Por Vivian Lobato, do Aprendiz / Envolverde, 23/04/2009)