O ministro do meio ambiente Carlos Minc anunciou hoje (22), em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que está negociando, com a equipe econômica do governo, a imposição de condições no socorro financeiro aos frigoríficos. "Vou combinar com o Guido Mantega [ministro da Fazenda] os detalhes nos próximos dias". Entre essas condições, a principal seria a restrição ao gado de origem ilegal.
Empresários do setor, entretanto, não acreditam que seria possível implementar essas condições. "Não dá para ter condicionante", disse Roberto Giannetti da Fonseca, presidente da Abiec, associação que representa os grandes frigoríficos, ao jornal Folha de S. Paulo. "Acabar com o abate de gado de origem ilegal [na Amazônia] é um objetivo desejável, mas é impraticável".
O presidente da Abiec acredita que a expansão da pecuária na Amazônia está próxima de um limite, e defende uma moratória para a expansão da pecuária na região. Mas Giannetti não acredita que seja possível vincular exigências ambientais ao crédito público, e diz que isso é "coisa para inglês ver".
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio de sua assessoria, afirmou que os frigoríficos se comprometem contratualmente a adquirir gado apenas de fornecedores que atendam às exigências da legislação ambiental, mas disse que a responsabilidade de fiscalizar o cumprimento das normas ambientais é do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
A organização Amigos da Terra lançou hoje o relatório A Hora da Conta, onde questiona o financiamento do BNDES aos frigoríficos. Segundo o relatório, esses financiamentos estão estimulando o avanço das áreas de pastagem e pecuária sobre a floresta amazônica.
Para o diretor da Amigos da Terra Roberto Smeraldi, o relatório "mostra que seria possível a redução de mais da metade da área de pastagem na Amazônia por meio da melhora na produtividade".
"Essa solução permitiria recuperar os passivos ambientais de reserva legal e colocar os produtores na legalidade, atendendo assim a demanda do MMA e os contratos do BNDES, que hoje são um faz-de-conta. Ao mesmo tempo isso permitiria atender a idéia de moratória de expansão que a ABIEC cogita. Mas isso requer um maciço e radical redirecionamento do crédito para a produção, revertendo às atuais prioridades", conclui Smeraldi.
O papel do consumidorEm relação às contradições entre o governo e o setor produtivo, há quem defenda que o importante para sanar o problema do gado ilegal na Amazônia está no setor varejista, que representa o elo entre produção e consumo. "Não é o Carlos Minc que vai mudar este quadro, é o Wall Mart, o Carrefour, o Pão de Açúcar que deveriam se importar com as ações", afirma João Meirelles presidente da organização Peabiru, que trabalha com a questão.
Para Meirelles, é possível uma pecuária legalizada na floresta, só falta vontade política e conscientização do consumidor. "A questão está no consumidor, ele tem direito de saber de onde vem as coisas que consomem. Isso deveria ser uma rotina neste país. Deveria ser comum tratar o consumidor com respeito" afirma.
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Amazonia.org, 22/04/2009)